quinta-feira, 17 de julho de 2025

Sonho (o caçador e os caminhos não nomeados)

Sonhei com a capa do meu pai me protegendo da chuva

Negra e vermelha como as bandeiras dos sonhos operários que não existem mais

Povoada por jaguares, gaviões e serpentes

Entre as águas doces e salgadas

Onde se escuta melhor o canto dos pássaros

E se avista a estrela do amanhecer em sua plenitude

Havia um caminho de piçarra que levava para além do nada

E de todas as gastas metáforas de um tempo ausente

Sonhei com a capa do meu pai me abrigando da chuva

Negra e vermelha como as bandeiras dos sonhos operários que não existem mais

Semeada de flores e borboletas

Entre as ruínas e a mais profunda escuridão

Onde apenas os vaga-lumes acendem alguma recordação

Sonhei que sonhava com a capa do meu pai

Negra e vermelha como a chuva de ossos

Entre o desamparo e a solidão de uma carne ferida pelo punhal do esquecimento

Onde se escuta com fina delicadeza o sopro do vento gelado das montanhas

E a brisa doce que desce dos céus à terra

Sem pressa, sem destino e sem qualquer pretensão de chegar a lugar nenhum...


nuno g.

Lima, 17 de julho de 2025.

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