Sonhei com a capa do meu pai me protegendo da chuva
Negra e vermelha como as bandeiras dos sonhos operários que não existem mais
Povoada por jaguares, gaviões e serpentes
Entre as águas doces e salgadas
Onde se escuta melhor o canto dos pássaros
E se avista a estrela do amanhecer em sua plenitude
Havia um caminho de piçarra que levava para além do nada
E de todas as gastas metáforas de um tempo ausente
Sonhei com a capa do meu pai me abrigando da chuva
Negra e vermelha como as bandeiras dos sonhos operários que não existem mais
Semeada de flores e borboletas
Entre as ruínas e a mais profunda escuridão
Onde apenas os vaga-lumes acendem alguma recordação
Sonhei que sonhava com a capa do meu pai
Negra e vermelha como a chuva de ossos
Entre o desamparo e a solidão de uma carne ferida pelo punhal do esquecimento
Onde se escuta com fina delicadeza o sopro do vento gelado das montanhas
E a brisa doce que desce dos céus à terra
Sem pressa, sem destino e sem qualquer pretensão de chegar a lugar nenhum...
nuno g.
Lima, 17 de julho de 2025.
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