quarta-feira, 21 de abril de 2021
O Povo como Templo, por Guenádi Aigui
Guenádi Aigui
Aldeia de Romáchkovo
6 de janeiro de 2002, véspera de Natal
(trad. jerusa pires ferreira)
terça-feira, 20 de abril de 2021
Amém Senhor, por Rony Bonn
Bebemos uma água suja
Que eles dizem
Que está limpa
Comemos uma ração podre
Que eles dizem
Que é comida
Vivemos sob uma luz turva
Que eles dizem
Que está vívida
Eles dizem muitas coisas
E a tudo damos graças
Mais tudo que temos
São essas coisas baratas
Maconha, cigarro e cachaça!
Rony Bonn.
sábado, 17 de abril de 2021
A cegonha, por Annibal Teophilo
Em solitária, plácida cegonha,
Imersa num cismar ignoto e vago,
Num fim de ocaso, à beira azul de um lago,
Sem tristeza, quem há que os olhos ponha?
Vendo-a, Senhora, vossa mente sonha
Talvez, que o conde de um palácio mago,
Loura fada perversa, em tredo afago,
Mudou nessa pernalta erma e tristonha.
Mas eu, que em prol da Luz, do pétreo, denso
Véu do Ser ou Não Ser, tento a escalada
Qual morosa, tenaz, paciente lesma,
Ao vê-la assim mirar-se na água, penso
Ver a Dúvida Humana debruçada
Sobre a angústia infinita de si mesma.
Annibal Teophilo
quarta-feira, 14 de abril de 2021
Itamaraju – poema da estrada
Quinze horas cruzando Minas Gerais.
As flores, as máscaras e os dois arco-íris na fronteira.
Quinze horas abandonando flechas no acostamento.
Quinze horas cruzando um Sonho absurdo e gigantesco.
Quinze horas nas veredas da mata de Tempo.
Quinze horas de guerra e oração dentro.
Itamaraju foi crescendo – o que era um quintal se fez um
céu.
E nossos corpos deitaram-se um sobre o outro.
Meus passos de vespa zumbindo no mercado.
Comprando frutas, comprando própolis, comprando cigarros.
Meus passos de mosca santificando a semana de um só dia.
Mastigando bolinhos caipiras na porta da barraca e lembrando.
De uma noite no vale dos buritis – penas brancas &
cobras corais.
O rapé. O pajé. A poeta. O irmão.
Itamaraju – palavra que desconheço o significado.
Pedra, como tudo que é pele à minha pele.
Quinze horas de lírios à sombra da segunda sombra da oiticica.
Jaguaribe; minha fome, minha sede, minha monástica aparição
às horas de rumores & neblinas
Itamaraju. Jurema.
(os raios que habitam teus lábios – e o meu perdão
saltitando como uma rã entre vossas mãos)
Caminhões & faróis altos.
Faróis altos.
Bananas, uma bolinha de plástico de máquina à moedas.
Quinze horas e nenhum cansaço.
A força límpida e cristalina da estrada.
Recolhimento pandêmico e notícias da terra.
Itamaraju – o oposto perfeito de esquecimento.
Pedra que guarda o que recebe.
Lugar onde se assenta.
ita /mar / azul
uma fotografia mais para o álbum.
nuno g.
Toróró, 14 de abril de 2021
segunda-feira, 5 de abril de 2021
Primeiro Verbete Involucionário em Agônica Pandemia, por Felipe Franklin Neto
Felipe Franklin Neto