segunda-feira, 31 de outubro de 2022

30/10/22

Manhã.


Tenho areia nos olhos.

Ossos frágeis, quebradiços.

Creio em deus e em seus intermediários.

Santos, caboclos, orixás.

Caminho no deserto desde antes da formação dos oásis.

A delicadeza é uma semente espinhosa.

Tenho areia nos olhos.

Água no interior dos dentes.

E me perco com insistência.

Creio no fogo sobre todas as coisas.

Creio no fogo dentro de todas as coisas.

Creio no fogo.

Onde habito tudo é noite.

Me alimento de restos e sou atravessado por futuros.

Tenho areia nos olhos.

Tenho areia nos ossos.

Não creio em nada além do caminho.

Não creio em nada além do deserto.

Não creio em nada que não tenha cheiro de mata.

Tenho areia nos olhos.

Ouço canções que já não mais são entoadas.

Converso com o rio.

Só Maria me faz ainda querer estar aqui.

Estar aqui e seguir.

Maria acorda e olha os três gatinhos amamentando no centro da sala.

Os acarinha, sorri e volta a dormir.

Trago mais mortos no corpo do que sementes.

Hoje é véspera de trovoada.

Maria me disse: papai, amanhã vai ser o caos.

Não existe verdade fora do ato de mastigar a terra.

Ontem a lua se pôs bonita.

Creio na lua.

Em seus ciclos e em suas sombras.

Olho o semblante dos mortos no espelho.

Eles choram.

Se curvam ante o declínio da esperança de Tempo.

Sou somente uma criança com areia nos olhos.

E esses vulcões que me nascem à pele.

Anunciam aparições e promessas.

Maria sonha e em seu sonho sou só uma criança com areia nos olhos.


Tarde.


(...)

quando a face do polegar assentou à lâmina do leitor ótico

revi as pessoas da zona rural com suas melhores roupas de domingo

                                                com seus melhores perfumes de domingo

perguntando umas às outras:

já perdeu a honra?

quando as mãos da mesária arrumaram meu dedo sobre a lâmina do leitor ótico

minhas unhas roídas ficaram demasiadamente expostas

e certa vergonha / certa aflição

veio à tona

como um golfinho que salta em direção às nuvens ou às estrelas


onde habito, habita a noite

onde habito, habita o frio

são rápidos e ligeiros como raios os passos da história se dissolvendo em pura política

e quando a história se dissolve em pura política

o reinado do terror se instaura no trono de Tempo

Maria pressentiu o caos,

a razão no corpo de L. se assustou com o cadáver que em sonho enterrara no jardim

creio no sol sobre todas as coisas

creio no sol dentro de todas as coisas

creio no sol


quando a face do polegar assentou à lâmina do leitor ótico

revi meu avô na sessão eleitoral da prefeitura

votando em cédula de papel

no coronel Adauto Bezerra

certa vergonha / certa angústia / certa aflição

e as pessoas da zona rural com a poeira avermelhada da piçarra das várzeas

                                            com suas melhores roupas de domingo

                                            com seus melhores perfumes de domingo

perguntando umas às outras:

já perdeu a honra?


(...)


Noite.


a estrela cintilou no céu.

fogos na terra.

que haja mais justiça.

que haja mais sonho e comida.

diversão & arte.


e que os fascistas todos marchem ao inferno.


nuno g.

Toróró.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Nenúfares II

para Jack Kerouac & Gary Snider,


Sonhei com Bruno lendo paradiso de Lezama Lima no quarto 217 do Overlook hotel.

Chovia muito e havia estilhaços de granadas ricocheteando por todos os lados.

Gerardo Machado, Fulgencio Batista e Golbery do Couto e Silva tomavam drinks na janela.

Sonhei com bernardinho saltando a porteira do sítio.

Sonhei com André Dias desenhando a palavra nenúfares na soleira do dicionário.

Chovia muito.

Sobre as plantações de papoula.

Sobre os cílios e as pálpebras de Neruda.

Sobre as cartas do tarot de Jodorowsky.

Sonhei com todos os meus sonhos encharcados por uma chuva de séculos.

Sonhei com o escárnio, a mentira e as infinitas perversões do ego.

Sonhei com cinzas e com armadilhas.

Sonhei com meus dois abikus em sua floresta.

Sonhei com Claudio Reis entre lírios brancos.

Sonhei com os sonhos da mulher que traz no corpo a razão.

Sonhei com a morte e com suas sedutoras artimanhas.

Sonhei com a chuva, com as granadas e com os agrimensores do Palácio dos Einhejar.

Sonhei com arquivos labirínticos e com a fé selvagem.

Sonhei com o assassinato de meu pai.

Sonhei com o suicídio de minha mãe.

Sonhei com os tapuias do Jaguaribe.

Sonhei com a chuva de mil séculos e com os erês de Tempo.

Sonhei, sonhei, sonhei...


nuno g.

Toróró, 25/10/22.


Nenúfares

Sonhei que estávamos próximos ao Bosque de Chapultepec.

Tato, Lupe e eu.

Havia formigas e latas de uma aguardente chamada el tiburón.

Não haviam deuses nem nada além de formigas.

E de pessoas com caras de formiga.

Eu ia até o banheiro mas não conseguia urinar.

Pois pessoas com cara de formiga se amontoavam no banheiro.

Num banco de praça metálico uma velha senhora de óculos lia os detetives selvagens.

Não havia mistérios nem nada.

Apenas cães metálicos e sombra de gatos cruzando a noite mexicana.

Quando acordei chovia.

Era véspera de trovoada e o sorriso de Valentina estava no meio do céu.

Como uma lua iluminando as águas que caíam como lágrimas.

E formavam o rosto de Hilda Hilst no ar.

Estávamos saudáveis, felizes e cheios de saudade.

Mas algo de nosso sangue e nossa juventude havia se esvaído.

Sonhei com Claudio Reis e Mardônio França.

E perambulávamos pela noite cachoeirana.

Como três palhaços endiabrados que recém haviam entendido.

Que em toda esquina existe a probabilidade de se encontrar uma lâmpada com um gênio engarrafado.

O despertador tocou.

Hora de acordar Maria para ir à escola.

O dia nublado. 

A recordação de Valentina sorrindo em seu dia.

Cartas de tarot espalhadas sobre o chão da casa.

E notícias do fim do mundo gotejando sobre o telhado.

Gotejando sobre os cães no terreiro e sobre o sangue e a juventude que havíamos perdido.

Maria se negava a levantar.

Papai, por que hoje você me acordou mais cedo?

Não filha, já são 05:39.

Enquanto escovava os dentes recordei do sonho com a mãe de santo tomando ayahuasca.

E as notícias do fim do mundo seguiram gotejando sobre o telhado.

Maria, finalmente, desceu as escadas.

O som de seus passos nos degraus de madeira entrava no meu corpo.

E se unia ao som de meu coração enferrujado.

A palavra que esqueci me perturbava.

Como se o dicionário ainda estivesse incompleto.

E tudo o que me trouxe até aqui se revelasse frágil e precário.

Maria escovou os dentes, penteou os cabelos, passou mel nas unhas e sorriu.

Recordei de um sonho muito antigo.

De um sonho terrível com o espírito lunar de minha mãe.

Gabriel me ligou: as crianças acordaram doente aqui.

Maria deitou no sofá.

Seguia chovendo.

E as notícias do fim do mundo estavam infiltradas em cada gota de água que caía...


nuno g.

Toróró, 25/10/22

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Seguimento.

 para Allen Ginsberg,


Sonhei com a família Pascoal e com os monges beneditinos.

Uma atmosfera de canto gregoriano.

Compramos um obi, branco.

No fogo, as águas.

Na pedra, as águas.

E nas vestes brancas todas as cores.

Sonhei com um mangue e com comida feita à base de fetos humanos.

Sonhei com um velório e um prato de ervas sobre a mesa.

Sonhei com parentes desconhecidos.

Pequenas dívidas de rua.

Treze reais na miscelânea da Faceira.

Trinta e seis reais no Mário da feira.

Haverá outra vez um tempo em que as diferenças não sejam um fardo?

Os fascistas atiraram granadas contra os federais.

Saudades de Durruti e dos carbonários.

Haverá outra vez um tempo em que o amor não traga o peso do mundo?

A poesia é a ciência das passagens.

A arte de decifrar rastros antigos de vozes quase esquecidas.

No rio, as águas.

E em seu espelho a esperança de regressar ao corpo em que nasci.


nuno g.

Toróró, 24/10/22.


sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Balada dos sonhos da infância.

Hoje, no mercado São Paulo.

Ou seria na farmácia Pague Menos?

A mulher me atendia ao caixa.

Usava um broche escrito:

Suicídio não é tabu.

Eu comentei, legal!

Foi do setembro amarelo?

Ela respondeu: não.

Sem pensar tornei a perguntar:

Você também tem suicidas na família?

Ela, com a naturalidade de quem nega algo evidente, não.

Quando criança tive vários sonhos que se repetiam.

Em um deles eu ia visitar um presídio.

Ao final da visita o carcereiro sempre me barrava a saída.

Eu era agora então um presidiário.

E acordava.

Nunca cheguei a saber como era a vida daquele presidiário.

Assim como não sei qual relação existe entre esse sonho e aquele broche.


nuno g.

Toróró, 13/10/22.


quarta-feira, 12 de outubro de 2022

O tuaregue IV

Todas as manhãs agora chove.

São as lágrimas do Senhor lavando a terra para a semeadura dos Lírios Brancos.

Lavando o deserto.

Se não fosse árduo e difícil não haveria dor no nascer.

Ontem Ele veio.

Trazia boas notícias de longe e muita pressa no corpo.

Tem coisas que só nascem depois de acesos todos os fogos.

Seus pés deixaram uma trilha de mel.

Seguimos.


nuno g.

Toróró, 12/10/22.

terça-feira, 11 de outubro de 2022

O tuaregue III

Acaraú.

Rio que corre do outro lado das areias.


A fé a fio.

Amolado.

Que corta o fogo e as águas.


O que não sabe cantar / O que não sabe dançar

O que traz a doença dentro e não quer partir.


A Rainha dos Céus chorando sobre nós.

Amalá.


nuno g.

Toróró, 11/10/22. 

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

O tuaregue II

Após a missa, os tambores.

E outra vez aquele canto noturno de deserto africano.


Maria comeu grão de bico.

Os erês brincaram com Larissa.

Acaçás.


Abriu-se a porta da capela.

Viva Santo Antônio.


Amanheceu chovendo.

E um enorme arco-íris floresceu sobre o rio.


nuno g.

Toróró, 10/10/22.

domingo, 9 de outubro de 2022

O tuaregue.

Sonhei com Milton, uma gente muita simples e uma praça chamada Bom Jardim.

Havia também um ônibus que nos levava a todos.

*  *  *

As moedas de mãos em mãos até chegar à cabaça.

Meu estômago mais revirado que de hábito.

A primeira limpeza. A segunda limpeza.

E o rio levando o que deve ser levado.

*  *  *

Desfazer laços é tarefa árdua.

Sempre à sombra o que nos acaricia ferozmente.


nuno g.

09/10/22.

 

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

angústia.

Hoje mais um Yanomami foi morto a tiros.

As fronteiras da expansão colonialista seguem sob as mesmas regras de antanho.

O vale-tudo do genocídio do século XVI voltou à flor da pele da história.

Os representantes do colonialismo interno decidiram abandonar o pudor.

Assumiram abertamente o fascismo como forma política legítima.

O teatro dos arrependidos não nos comova nem nos ilusione.

Neoliberalismo econômico.

Neopentecostalismo religioso.

Racismo cultural, vulgaridade estética e pseudonacionalismo.

Todos se juntam para salvar a democracia.

Todos agora se veem obrigados a apoiar o partido dos trabalhadores.

Envergonhados e estratégicos.

Esperaram a eleição de um fascista.

Esperaram quatro anos de um governo fascista.

Esperaram o segundo turno.

Esperaram a eleição dos piores para o senado e a câmera.

Esperaram para negociar uma vez mais.

Esperaram para garantir que o governo do partido dos trabalhadores não mudará nada.

Apenas salvará o sistema das garras do fascismo.

Hoje a iminência de um conflito nuclear mundial é maior que em todas as décadas passadas.

E isso soa até esperançoso.

Quase revolucionário.

Como levantar e sair de casa num país em que 43,2% das pessoas se assume fascista?

Todos armados. Todos donos de si.

Narcisistas admirando no espelho do palácio da alvorada a imagem refletida de sua própria ignorância.

Arrotando preconceitos e má-fé.

As aldeias infestadas de pistoleiros.

As universidades acossadas pela falta de verba e por uma desconfiança de tudo que seja saber.

Os piores venceram. Os que permitiram sua vitória agora se chegam marotamente.

Talvez percebam que as forças que despertaram escapam ao seu controle.

Quando João Batista Figueiredo sancionou a lei da anistia começou a semear o hoje.

Alimentaram o Inominável décadas esbravejando atrocidades no parlamento.

Agora fica claro: era preciso ter à mão um projeto autoritário.

Caso algo desse errado sempre teriam a quem recorrer.

Recorreram.

Aqui chegamos.

Uma pequena parte é só ignorância, três por cento talvez.

O resto é isso mesmo: identidade de valores.

Fetiche militarista e ódio a tudo que remeta às memórias que nos fazem ser o que somos.

Os de Canudos tinham razão.

Os do Caldeirão também.

Nem pra guerra esse rincão parece servir, mas um dia chega.

A corda tá esticada.

Aqui e na Ucrânia.

Estamos todos doentes, faz tempo.

Enquanto houver fé, terreiro e poesia haverá esperança.

Mais cada vez temos menos fé, menos terreiro e menos poesia.

Tudo é negócio e no mundo dos negócios outra vez vale-tudo.

Como no século XVI. 

Conquistadores e bandeirantes.

Já esquecemos o estardalhaço que foi quando pixaram a estátua do Borba Gato?

Já esquecemos o vigor da nossa polícia defendendo os relógios da globo nos 500 anos?

Hoje o país acorda com mais armas e menos livros.

Universidades ameaçadas de fecharem por não poder pagar conta de água e de luz.

Aldeias indígenas invadidas por garimpeiros e pistoleiros.

Agronegócio não é ecológico, é óbvio e ululante.

No século XVI se debatia o direito à escravidão, hoje também.

No século XVI se discutia se os outros tinham alma, hoje também.

A classe média se move atarantada.

Os setores algo esclarecidos das elites tem esperança.

Eleger o partido dos trabalhadores em condições tais que não possa governar.

Refém do agronegócio.

Refém dos banqueiros.

Refém da miséria moral e estética da massa evangélica.

Refém de si mesmo e de sua política de alianças perpétuas e negociações espúrias.

É só mais um capítulo de um longo massacre.

Haverão outros, caso a hecatombe nuclear não se concretize.

Aqui na matéria, com a visão turva como é toda visão da matéria.

Parece mesmo ser o fim de alguma coisa que não sabemos nomear.

Todo fim é também um começo.

Assim como toda morte é um nascimento.

A democracia morreu pela sua própria incapacidade de isolar os que a ameaçavam.

A tolerância aos intolerantes nos trouxe até aqui.

Talvez esteja próximo o tempo em que o céu desabará sobre nossas cabeças.

Que neste tempo não haja anistia, nem esquecimento.

E que os que estão nesta guerra há cinco séculos nos ensinem a sobreviver e a manejar as armas.


nuno g.

Toróró, 07/10/22.



quarta-feira, 5 de outubro de 2022

devoção II

para Janaína, Maria Alice e Ian,




Ele veio mais uma vez.
Levou Tempestade, seu cavalo.
O sol amarelou o mundo.
O fascismo fazendo ferver a terra.
a jangada que voa no mar
voa no meu coração

As águas do Jaguaribe são sim as águas de todos os rios.
Ele veio uma vez mais.
Para não esquecermos que a terra que pisamos é cemitério indígena.
E que quando as onças cantam futuro e passado se tornam sinônimos.
Ele veio e disse: desconfiem.
Que o neocolonialismo seja sinônimo de neofascismo assusta.
Só quem deseja matar uma vez mais os mortos não sente temor e ódio.
Nós estamos vivos.
Conectados ao sangue tapuia que corre naquele rio.
As águas do Jaguaribe são sim o sangue que corre nas minhas veias.
Ele veio. O sol brilhou majestoso.
Tempestade se foi.
O galo também.
Quando eu morrer se escreva à lápide com a tinta do meu sangue:
a morte de meus pais não foi em vão
e que a jangada siga singrando entre o mar de constelações...



nuno g.
Toróró, 04/10/22

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Devoção.

 para Mardônio França & Claudio Reis,


Ele veio cedo - muito cedo.

Outra vez em seu Ivo - entre um menor e um winston.

A voz entre cinzas, neblina e outras sílabas.

Teu irmão te precisa.

Depois de um longo e prolongado silêncio.

João matou um galo.

O fascismo passou no teste - a ilusão mostrou que tem poder.

Outra vez em seu Ivo - entre um menor e um winston.

O som do pássaro na gaiola.

O som do rádio.

Estórias de sexo & dinheiro.

A fruta só dá no tempo.

Ele veio cedo outra vez.

Levou um galo.

Trouxe notícias nada boas.

Veio recordar não deixar esquecer.

Que esse chão é nosso.

O mensageiro das asas nos pés.

O menino das mil travessuras.

Veio recordar que o fascismo é a pior das ilusões.

Que a matéria nos ofusca a visão.

Que o Senhor da Vida é também o Senhor da Morte.

E que a palha, o ar, o fogo e as águas estão unidas no Tempo.


nuno g.

Toróró, 04/10/22.

sábado, 1 de outubro de 2022

sonhos

Sonhei com Inaê três vezes.

Na lua seguinte sonhei com os guardiões de Tempo:

sustentando as colunas do Astral.

Umas luas antes sonhei com Ernesto e seu Caminho Amarelo.

Quando acordei havia uma cobra de duas cabeças em casa.

Dino a atalhou atrás do armário branco.

A esperança e a morte são boas amigas.

Na estrada os fascistas trocavam sorrisos como se o amanhã lhes pertencesse.

Sonhei com Benedito e Maria.

Eles se banhavam no rio enquanto as onças uivavam na serra.

Um gato deitou no meu colo e juntos cruzamos a madrugada.

Seu pelo era macio e suas orelhas eram espetadas.

Sonhei com Inaê três vezes.

Nas três ela era uma senhora muita velha.

Coberta de flores roxas e lama de mangue.

As canções do motorhead me recordam muitas coisas.

Olhar as juremas floridas espanta tristezas.

Feridas servem para saber que estamos vivos.

O fascismo nos ensina a desconfiar de amabilidades.

Sonhei com Inaê três vezes.

Em outra lua sonhei com o Senhor da Justiça.

Ele trazia às mãos uns lírios brancos da Mãe d'água.

Devolvemos a cobra de duas cabeças ao mato.

E quando acordei o dinossauro não estava mais na sala.


nuno g.

Toróró, 01/10/22.