domingo, 20 de março de 2022

A estrela da montanha

O sol nasceu em Caçapava

Minhas mãos giraram lentamente a clepsidra

E o ontem despontou como horizonte

E o amanhã foi ficando para trás

Nos cobraram muitos pedágios

Até chegarmos ao cume da montanha

Até tocarmos as pétalas da estrela da montanha

Até sentarmos nas memórias que as pedras daqui guardam das pedras de lá

O sol nasceu em Lumiar

E outro Nuno, paraibano

Me estendeu as mãos lentamente

Apenas o som de pássaros e da clepsidra girando

Entre bambuzais e poços de água corrente e refrescante

E outro Nuno, pernambucano

Assumindo seu trono celestial

O buda gigantesco às margens da rodovia que cruza o Espírito Santo

Os peixinhos famintos da parada do Natureza

Os filhos de santo vestidos de branco

A ponte, o hino e o grito de guerra

Ansiedade, risos, doces árabes

Os cães, os gatos, a casinha na árvore

Xadrez, corpos encharcados de saudades

O violão encostado à parede

Benjamin, no parquinho, cobrando:

Quem é o pai de Deus?

Salve Lumiar, viva o Caminho

Saravá são José operário, 

Saravá.


nuno g 

19 de março.


quinta-feira, 17 de março de 2022

Serpentes, flautas, amendoins

Maria sonhou com uma serpente cor de areia

Magnólia me esperava as onze

Onze-e-meia, talvez:

Tio Nuno, sabia que é carnaval

e carnaval é uma festa dos deuses?

Que deuses Magui?

Os orixás

Lembrei de Nanã

Inaê chamou o mar e o mar veio

Lembrei de Nanã

As primeiras palavras que Iara nos disse:

A cachoeira de mamãe Oxum

Lembrei de Nanã

Ele nos esperou na UPA

Trazia uma criança no colo

E estava inquieto e falante

Ele dormiu conosco no acampamento

Sonhei com meu tio

Chupávamos picolés de limão

Sentados numa jangada de pedra

Éramos Ifá e Iroko

Maria confundiu são Vicente com são Sebastião:

Papalino, é aqui que a Francine mora agora?

Recordei Nanã no centro da floresta

Junto ao recém-nascido Miguel

E a serpente cor de areia tomou forma de arco-íris

E subiu aos céus.

 

nuno g.

Lumiar, 16 de março de 2022. 


segunda-feira, 7 de março de 2022

Asas pra que te quero, por Gaeth Castanheiro

Foi de repente

Nem era mais primavera

Mas havia flores no quintal

Havia pássaros passarinhando

Um passinho orquestrado de folia

Até cabia, era carnaval

Até pirata na pirataria

Seguia um passeio em sua nau

Saudade à vista !

Gritou a capitã em plena capitania

Que mania de só querer voar !

São três passarinhos fazendo ninho

Em todo cantinho da terra e do céu

Tudo bem se tem sol se tem chuva

E se tem mel

Passarinhos e flores

Sempre amanhecem no meu quintal


Gaeth Castanheiro