Estamos em setembro e todos estão muito preocupados com os suicidas.
É muito difícil mesmo lidar com as vozes dos suicidas.
Sempre mais fácil esconder-se atrás de uma bandeira amarela.
Os suicidas são os únicos que nunca vão pronunciar as mentiras que você deseja ouvir.
E nenhum ministério os silenciará.
Os suicidas não são um problema de saúde pública.
São a prova cabal do fracasso do projeto de civilização onde estamos mergulhados.
Toda escuta burocrática é surda às vozes dos suicidas.
Nenhuma bandeira amarela é suficiente ante o vento que sopra do absurdo.
Ninguém se suicida por temer a luz do sol.
O que temem os suicidas é esse temor ao escuro que serve de fundamento.
A uma sociedade que se enterra com suas próprias mãos.
E que oculta de si mesma sua própria sombra.
Os setembros amarelos são só mais uma tentativa imperfeita e violenta.
De tentar silenciar o que não pode ser silenciado
o que não quer silenciado
o que não deve ser silenciado
o que nunca foi nem nunca será silenciado
A verdade que ecoa nas vozes dos suicidas diz muito sobre a enfermidade do mundo.
Eis a razão pela qual a cultura as converte em tabu
as condena ao esquecimento
Procura esvaziá-las reduzindo-as à esfera do que é individual.
Ocultando em seu gesto tudo que transcende o biográfico.
Preservando-se da severa e agônica condenação que trazem à tona.
A convivência com a dor que sustenta a existência coletiva é insuportável.
As vozes dos suicidas ignoram os meses e as cores.
O que elas exigem é a coragem de uma escuta autêntica e radical.
nuno g.
24 de setembro de 2025.
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