para Néstor Perlongher & mãe Baixinha,
aéreas, indecifráveis, espessas
entremeadas por escamas finas e desdobráveis
e frágeis faíscas de um corpo em combustão espontânea
aéreas, invioláveis, esverdeadas
entremeadas por escamas coloridas e pontiagudas
o cansaço e a gravidade agem como fogo no corpo
e o arrasta aos corais submersos — ao inexpugnável céu das águas douradas
onde apenas se sente, quase como uma intuição que se desfaz,
o aroma da presença da estrela azul
aéreas, impermeáveis, remotas
entremeadas por vozes de fantasmas que não cansam de repetir:
não há mar, não há eclipse, não há arco-íris
aéreas, incansáveis, geladas e adocicadas
entremeadas por vagas memórias do palácio da Rainha
aéreas, sonolentas, ébrias
entremeadas por pequenas veredas de uma antiga floresta
e uma insistente pergunta: onde estás estrela azul, onde estás?
aéreas, aéreas, aéreas,
entremeadas por silêncios profundos
que se espraiam sobre os resquícios de uma biografia
sobre jardins em eterna penumbra
onde não se registram acontecimentos
onde tudo é impreciso e espera de uma forma
aéreas e inalcançáveis
entremeadas por insistências de um destino tão concreto quanto o mármore
apenas as dúvidas e os peixes se sentem cômodos aqui
apenas eles não se incomodam com a voz ébria dos fantasmas
tudo se move, tudo gira
incessante e caleidoscópico eco do sino assombroso da catedral
adocicado aroma da estrela azul
entre aéreas águas onde não reina nenhuma ordem conhecida
onde lógica é sinônimo de atordoamento
onde reverbera a irreconhecível promessa do fósforo e do amianto
aéreas águas, estrela azul e um coração estendido sobre a relva que se recusa a amanhecer...
nuno g.
Lima, 03 de junho de 2025.
Lindo e cheio de música.
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