Hermenegildo e Rebeca se cruzaram na estrada essa semana. Antes do primeiro tremor da terra. Ainda quando a neblina mergulhava a cidade em penumbra. Apenas de soslaio foi possível avistá-los. Havia muita distância em seus corpos: distância e cansaço. Em Rebeca toda a beleza se convertera em memória e Hermenegildo aparentava guardar mais silêncio que o já habitual. O vento que acompanha Hermenegildo acendeu algo do fogo triste tão próprio à Rebeca. Um beija-flor, ao longe, floresceu. Assim como chegaram se foram. Sem deixar indício das razões de suas presenças. Apenas a certeza de sempre que tudo o que fazem é necessário e que essa é a única ideia que têm sobre o que significa ser livre. O rio seguiu seu curso, mas conservou a precária alegria de ter saciado a sede de um pássaro, de um velho e de uma corajosa senhorita que bem poderia se chamar Recusa. Sim, a terra tremeu duas vezes nos últimos sete dias. Nada além do esperado. Tudo conforme o risco aceso pelo Senhor dos Caminhos no chão em brasas. Mais uma guerra a recordar aquela outra guerra. Onde nascem estrelas e todas as cores se confundem. Onde a morte, faceira e empolada, pode se divertir ao ver brincarem a onça, a serpente e o gavião. Sim, raios caem no mesmo lugar. E sim, os raios são os mesmos e os lugares também. Apenas Hermenegildo e Rebeca sabem que é possível deixar de ser e seguir sendo ao mesmo tempo. É que eles sabem onde encontra-se a árvore chamada Tempo. Conhecem os caminhos de suas raízes pelos subterrâneos e a trajetória curva de todas suas sementes quando caem a cada outono. Existe algo mais no ocorrido, mas este algo é justamente a última fronteira do que me é permitido narrar.
Jesús María, 16 de junho de 2025.
Nenhum comentário:
Postar um comentário