Lhe recordava a infância.
Sem presentes, sem ceia, sem infância.
* * *
A piscina, os camarões, os pés de seriguela.
As cervejas, o vinho e o churrasco.
As mangueiras e os cavalos.
* * *
O vento arrastou a poeira dos vivos e dos mortos.
Apenas o rio segue idêntico a si mesmo.
Indiferente a tudo e a todos.
* * *
Meus pais morreram nas vésperas das vésperas do natal.
Ian morreu na véspera das vésperas da véspera do natal.
Comemos, rezamos e dormimos antes de assistir o menino e a garça
* * *
Tio Edson morreu dois dias depois do natal.
Na mesma data em que, todos os anos, o ônibus da Itapemirim lhe levava ao Ceará.
Tia Neuza tinha toda razão de odiar o papai Noel.
* * *
A vida é triste, como uma rã saltando no charco.
Apesar da alegria do som do óleo quente fritando as rabanadas.
E sim, tia Neuza tinha todas as razões de detestar as celebrações natalinas.
nuno g.
Toróró, 25 de dezembro de 2024.
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