quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Espírito natalino

Tia Neuza sempre detestou os natais.

Lhe recordava a infância.

Sem presentes, sem ceia, sem infância.


  *   *   *

A piscina, os camarões, os pés de seriguela.

As cervejas, o vinho e o churrasco.

As mangueiras e os cavalos.

  *   *   *

O vento arrastou a poeira dos vivos e dos mortos.

Apenas o rio segue idêntico a si mesmo.

Indiferente a tudo e a todos.

  *   *   *

Meus pais morreram nas vésperas das vésperas do natal.

Ian morreu na véspera das vésperas da véspera do natal.

Comemos, rezamos e dormimos antes de assistir o menino e a garça

  *   *   *

Tio Edson morreu dois dias depois do natal.

Na mesma data em que, todos os anos, o ônibus da Itapemirim lhe levava ao Ceará.

Tia Neuza tinha toda razão de odiar o papai Noel.

  *   *   *

A vida é triste, como uma rã saltando no charco.

Apesar da alegria do som do óleo quente fritando as rabanadas.

E sim, tia Neuza tinha todas as razões de detestar as celebrações natalinas.

nuno g.
Toróró, 25 de dezembro de 2024.

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