Tudo aqui é antigo
O corpo de Hart Crane se dissolvendo no mar
E as luzes dos vaga-lumes no cio
Os beija-flores que entram pela janela
O choro dos bebês
A sede e a fome de mistério
Tudo aqui é antigo
Os vitrais que sobreviveram aos terremotos
As pílulas que o andarilho leva ao bolso
E o mormaço que acompanha nossos passos
Tudo aqui é antigo
As velas que nossas mãos trêmulas insistem em acender
A procissão de eguns que dançam em torno à árvore de nossas mirações
E a insônia que nos protege de nossos próprios espantos
Tudo aqui é antigo
Como o vento dos mitos mais antigos
Como a tempestade que aguarda a hora de desabar sobre nossas cabeças
Como os cabelos de Andrômeda, a princesa etíope
Tudo aqui é antigo
Tudo aqui é memória de um coração forasteiro
Tudo aqui é marulho e arrebentação
Como o fogo que em cinza transmuta todas as coisas
Tudo aqui é antigo movimento de um velho ferrorama
Vagando perpetuamente do Nada ao Nada
Até que nos trilhos não haja memória alguma das ruínas do mar
Nem dos ossos das tempestades
nuno g.
Toróró, 18 de dezembro de 2024.
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