terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Tudo aqui é antigo

Tudo aqui é antigo

Esses cacos de cristos de cerâmica e parafina 

Que encantam arqueólogos

Que enfeitiçam antiquários

Que mergulham em estado cataléptico toda sorte de alquimistas e falsários

Tudo aqui é antigo

Tudo aqui são ruínas ossos e ruínas

Essas cartas de baralho esbranquiçadas pelo sal dos mares

Esses mapas de céus imaginários com suas constelações de medos e fúrias

Esses transeuntes de passos desajeitados e sobressaltados

Tudo aqui é antigo

Essas sombras, essas águas, esse trem em meus sonhos

E essa biblioteca que não termina de incendiar

Tudo aqui é ornamento à base de luzes arcaicas

Como essas fotografias de Pedro Juan num puteiro de São Paulo ou da Barra do Ceará

Como essas árvores e esses presépios e nossas mãos sujas tentando tocar a promessa

Tudo aqui é antigo

Essa lua cheia, essa chuva de meteoros, essas palavras ciganas

Essa quentura, esse bolor, essa atmosfera de fascismo e impunidade

Tudo aqui é antigo

Como o som dos carapanãs de Iquitos

O cheiro de sexo escorrendo pelas paredes

Gotejando entre as frestas do telhado

Enquanto o anjo Azul segue sobrevoando a noite em que nos afogamos...


nuno g.

Toróró, 17 de dezembro de 2024.

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