Tudo aqui é antigo
Esses cacos de cristos de cerâmica e parafina
Que encantam arqueólogos
Que enfeitiçam antiquários
Que mergulham em estado cataléptico toda sorte de alquimistas e falsários
Tudo aqui é antigo
Tudo aqui são ruínas ossos e ruínas
Essas cartas de baralho esbranquiçadas pelo sal dos mares
Esses mapas de céus imaginários com suas constelações de medos e fúrias
Esses transeuntes de passos desajeitados e sobressaltados
Tudo aqui é antigo
Essas sombras, essas águas, esse trem em meus sonhos
E essa biblioteca que não termina de incendiar
Tudo aqui é ornamento à base de luzes arcaicas
Como essas fotografias de Pedro Juan num puteiro de São Paulo ou da Barra do Ceará
Como essas árvores e esses presépios e nossas mãos sujas tentando tocar a promessa
Tudo aqui é antigo
Essa lua cheia, essa chuva de meteoros, essas palavras ciganas
Essa quentura, esse bolor, essa atmosfera de fascismo e impunidade
Tudo aqui é antigo
Como o som dos carapanãs de Iquitos
O cheiro de sexo escorrendo pelas paredes
Gotejando entre as frestas do telhado
Enquanto o anjo Azul segue sobrevoando a noite em que nos afogamos...
nuno g.
Toróró, 17 de dezembro de 2024.
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