para Larissa,
Era para ser apenas um passeio agradável e despretensioso.
Mas quase nunca as coisas chegam a ser o que imaginamos que deveriam ser.
Saímos da praia de Iracema onde não havia nada nem ninguém.
Nem o bode Ioiô, nem o poeta Mario Gomes, nem a jangada de pedra.
Caminhamos por ruas vazias até o passeio público.
Nem o baobá habitava mais aquele lugar.
Até a praça do Ferreira tudo era cenário pós-guerra.
Muito lixo acumulado, ausência de pássaros, nenhuma pessoa.
Havia uma entrada para o subterrâneo no meio da praça.
Descemos e encontramos apenas um homem imberbe fumando crack.
Seguimos até a praça do Carmo.
Montanhas de lixo e ausências acumuladas.
Acordamos no Benfica sem Airton Monte, sem seu Chaguinha, sem nada.
Só um pesadelo a mais de quem com pesadelos a muito está habituado.
A terra devastada que herdei se prolongando sobre a memória de uma cidade solar.
A terra devastada que herdei se estendendo sobre a espinha dorsal de uma cidade que
há muito decidiu dar de costas aos seus e olhar fixamente o mar.
A terra devastada sobre uma cidade devastada por arranha-céus sem sentido e sonhos de
aquários.
Era para ser só um passeio agradável e despretensioso.
Mas terminou sendo um pesadelo.
Sobre a fé enferrujando.
E sobre todas as coisas que não nos deixam esquecer que somos menos e habitamos o nada.
nuno g.
Toróró, 24/10/24.
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