quarta-feira, 16 de outubro de 2024

ponte sobre Banabuiú.

     Meu avô também era ponte, conectava meu corpo ao corpo da morte e meus sonhos aos sonhos dos russos do século XIX. Meu avô também era silêncio e sofreguidão, tudo nele se recusava a sedimentar. Eu era demasiado criança para entender o mundo que meu avô em mim moldava e sequer suspeitava das razões que faziam o rio se avermelhar quando suas mãos cortavam as águas. Meu avô estendeu o amarelo para que Ernesto seguisse caminhando além do paredão de pedra que é a chapada do Apodi. Tentou abrir meus olhos antes que os seus se apagassem, mas era tarde. Ele morreu e com ele se foi minha primeira infância. Depois voltou em forma de pássaro e lamento. Hoje, segue sendo ponte, entre meu canto e a impossibilidade de qualquer perdão.

nuno g.
Toróró, 16/10/24.

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