Ainda mais quando somos neblina.
Quando não há distinção entre nós e a névoa.
É muito difícil saber quando começou o hoje em que estamos.
Ainda mais quando somos em tudo saudade do futuro.
E habitamos a distância de tal maneira que nada nos separa do nada.
É muito pouco provável que sejamos capazes de resistir.
A bandeja dos vícios é demasiada atraente.
No esbanjamento existe um desejo de perpetuação que seduz.
Assim como no ascetismo ou na tristeza que se apresenta como monotonia.
Todas as janelas estão abertas.
Ouço cães, pássaros - ouço a lua.
É muito difícil escapar ao som da neblina.
Ainda mais quando esse é a música que escapa de nosso corpo.
E quando não há mais distinção possível entre nosso corpo e a terra.
Só nos resta essa fé fraca e fugidia que acende as maiores tempestades.
É muito improvável que possamos chegar a ver através da neblina.
Mas sem essa esperança o envelhecimento seria somente torpor.
É muito pouco provável que sejamos capazes de saber onde estamos.
Mas sem essa ilusão toda lucidez seria completamente impossível.
E estaríamos verdadeiramente perdidos por toda a eternidade.
nuno g.
Toróró, 04 de fevereiro de 2025.
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