para Larissa Gonçalves & Claudio Reis,
Que rimava com o sonho cantado em uma milonga uruguaya.
Assucena conversa com as galinhas no quintal.
Larissa acende saudades do caldo do Velho.
Recordo como hoje fosse.
Domingo à noite, televisão ligada, o sino da missa na igreja do Rosário.
A porta da esperança abria e fechava.
Choros, lágrimas, alegrias, decepções profundas.
A qualquer hora eu esperava o convite.
A porta se abria e do outro lado me aguardava meu irmão paraense.
Filho de meu pai que, ao contrário de mim, bem conhecera seu antiquário.
Nos olhávamos, nos olhávamos e nos olhávamos.
Como se buscássemos uma fagulha de reconhecimento.
Uma faísca de esperança e amor sobreviventes do assassinato de nosso pai.
Despertava do transe, botava roupa de domingo e ia para a praça.
Conversas longas, silêncios e a beleza das meninas dando voltas sobre si mesmas.
Os anos passaram. Vieram secas e enchentes.
Nas asas de uma milonga uruguaya outra vez a certeza que sonho, destino e vento.
Significam de maneiras similares.
Passam a existir plenamente depois do nosso milésimo parto.
Ainda ontem assisti um jogo entre um gato e uma serpente.
Não sei quem venceu.
Menos ainda se isso guarda qualquer importância.
Tardei por inserir esse verbete no dicionário.
Talvez por não querer falar ainda do dia em que as mãos de Alice me curaram o estômago.
Ou de como precisei morrer mais uma vez para entender o que Assucena me trazia.
O convite nunca chegou.
A porta da esperança da infância nunca se abriu.
Mas o vento fez coincidir sonho e destino.
E aos pés da lua, sob seu pranto e sorriso, me fiz gavião mais uma vez.
nuno g.
Toróró, 08/11/24
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