em terra de olhos turvos e neblina tóxica a cegueira reina
israelenses cegam libaneses com bipes que explodem
associações de cegos se revoltam contra a lucidez de Saramago
candidatos cegos insistem em convencer pessoas cegas a votar cegamente
o país arde em chamas criminosas e a fumaça nos cega
pastores cegos guiam rebanhos cegos ao inferno
hiperbolicamente antenados com a enfermidade que nos extingue
que em nós se extingue
e que nos impede ver como sair como entramos como sobrevivemos
neste tempo em que escatologia e história se fundem
como o zinco ao zinco
como o sinistro ao sinistro
como a ausência à ausência e à Ausência
em terra de cegos os eclipses passam quase desapercebidos
como nossas sombras ao atravessar a rua
ou como aquela bigorna de esquecimento que já não nos permite recordar
as centenas que ficaram cegas nas protestas chilenas
ou os libaneses de ontem que já começam a ser apenas um esquecimento mais
o que poderá nossa imaginação a partir dessas ruínas?
assim pixado no muro de Cachoeira
ao lado, escrito em tinta que não se vê,
: em terra de...
nuno g.
Toróró, 18/09/24
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