quarta-feira, 8 de julho de 2020

Lá, por Ayla Andrade

Saudade eu sinto de nada. Saudade nem da palavra saudade. Não tenho saudade de pessoas. Nem gosto de pessoas. Nem de cartas.
Saudade eu tenho de outro tempo que eu sabia que não era feliz, mas achava que era. Achar que era feliz era a minha máxima. Era pelo menos real. A certeza de não ser feliz e permanecer achando.
Como aquele dia na praia, no sempre-verão da cidade, dias a fio arranjando como chegar no mar e de lá nunca mais sair.
Nunca mais sair é a nova regra do viver e de permanecer vivo. Permanecer por causa das pessoas de quem nem sou fã.
Fico em casa por mim mesma. Eu, a rede e esse trabalho incessante e desnecessário que me arranjaram mas que me garante o sustento.

No fim a gente vai morrer em casa, com o armário cheio de comida e com lembrança de uma saudade vaga.

Ayla Andrade

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