terça-feira, 9 de agosto de 2022

O Senhor que habita a Pedra

O que tudo vê.

O que tudo sabe.

O que aqui estava quando não estávamos ainda.

O que conhece nosso rosto antes mesmo do nosso nascimento.

O que nos guia em nossa distração.

O que é rude e áspero por ser entendimento em estado bruto.

O que nos cuida quando perdidos.

O que nos reconduz ao nosso coração quando farrapos.

O que nos reconcilia com o escuro de dentro e com o excesso de luz lá de fora.

O que nos permite as canções da lua e a coragem do amor.

O que nos ampara quando caídos erramos pelos subterrâneos.

O que é água quando somos sede.

O que não diferencia sonho e realidade.

O que não nos permite desistir.

O que nos quebra os ossos quando hesitamos ante o necessário.

O que nos desperta quando o engano nos seduz.

O que é mais Velho do que o mais velho de nossos desejos.

O que é pensamento em perpétua sedimentação.

O que é larva no interior de nossa memória.

O que é futuro arcaico e passo firme em direção ao amanhã.

O que se desdobra sempre e outra vez.

O que com seu sopro faz emergir na árvore de Tempo a face do que somos.

O que é o que sempre desconhecemos de nós mesmos.

O que nos acompanha, nos cura e nos mata, com amor e ferocidade.

O que é, simultaneamente, terror e delicadeza.

O que habita a Pedra e a Palha.

O que nos cura.

O que nos mata.

O que nos escuta.

O que dança e não nos abandona.

O que sabe da formação geológica da terra e das almas.

O que se transmuta em pássaro quando quer voar.

Em serpente quando quer guiar.

E em esquecimento quando quer nos proteger do Nada e seus maus agouros.

O que é mais velho e mais terno

- pois mais caminhos já percorreu nessa gira.

O que aqui ainda estará quando nós já não mais estaremos.

O Senhor que habita a Pedra, a Palha e o destino das almas deste mundo.

O que tudo vê.

O que tudo sabe.

Siga guiando nossos passos.

Siga regendo nossa peregrinação.

Além.


nuno g.

toróró, 09/08/22.

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