segunda-feira, 9 de maio de 2022

O castelo da Rainha.


Tudo que não invento é falso.

Manoel de Barros

Foi para lá que ela me disse que ia antes de partir.

Quando chorou não o fez pela guerra, mas pelo pressentimento da vitória.

Havia tanto mel entre os vinte e três pássaros que a noite decidiu tardar além do previsto.

Cobra coral, o silêncio dos meus joelhos sobre o sangue de vosso sagrado chão.

Xangô reinou sobre todas as coisas.

Curumim soprou com fé desde o bambuzal:

Não se celebra antes, sonho bom se desfaz.

Quando chorou não o fez pela guerra, mas pela intuição do sol.

Havia tanto mel entre as serpentes que choveu.

E quando Curumim soprou a flauta os sons de Uakti despertaram.

Xangô reinou sobre todas as coisas.

Havia mel, demasiado mel, entre as pipocas.

Foi para lá que ela disse que íamos antes de partirmos.

Quando chorei não o fiz pela guerra, mas pelos cânticos que anunciaram seus propósitos.

Xangô reinou sobre todas as coisas.

E as bênçãos da cobra coral caíram sobre nós como as águas do dilúvio.

Xangô reinou sobre todas as coisas.

Curumim brincou com as estrelas.

Curumim brincou com a lua.

Curumim se lambuzou de mel e se foi.

Quando choramos não foi pela guerra, mas pela força do vento que soprava da flauta.

Não se celebra antes, sonho bom se desfaz.

E Xangô, finalmente, reinou soberano sobre todas as coisas.



nuno g.

Toróró. 09 de maio de 2022.

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