terça-feira, 14 de dezembro de 2021

A terceira vela

Em tua cama de areia e pedra descansa, menino

E ainda assim, soterrado antes, hás de sonhar

Entre a torrente incessante de sonhos que é tua única realidade

Sempre retornará a imagem daquele efêmero instante

Em que nos meus braços teus olhos fechados

E teus cabelos encaracolados

Em tua cama de pedra e areia descansa, menino

Para nós, os nascidos, tudo se resume a efêmeros instantes

Ao contrário, para ti, natimorto

Nada é efêmero e só existe a estrada da eternidade

Descansa menino, descansa

Sob o fio de luz desta vela que te acendo,

Descansa,

E com tuas mãos morenas vais abrindo o caminho

Por onde passam as serpentes emplumadas

E a legião dos cegos missionários da floresta

Em tua cama azul e amarela, descansa meu menino

Descansa como descansarias na rede que te teceu a aranha rendeira

Descansa e escuta minha prece, menino

Entre a torrente incessante de teus sonhos

Sentirás o perfume destes incensos que te acendo

Ian, anjo entre anjos,

Luz, firmeza e a consciência profunda dos que se recusam a abandonar a eternidade.

 

Nuno g.

Toróró, 14 de dezembro de 2021.

4 comentários:

  1. Nuno...Me afogo, me afago, estrelo e encho-me Lua em tua poesia. Tão linda é tua pertença ao sagrado, que é simplesmente tudo que em mim até a dor, dói bonito!

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  2. Bicho, mano veio, tá escrevendo bem para caramba

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