quarta-feira, 23 de setembro de 2020

O ano do infinito

                                                                                              para Maria,

Sete vezes dançaram os praiás sobre a coroa de sua cabeça.

Sete vezes cruzamos os sete rios sem que as águas nos molhassem.

Sete cânticos o jaguar encantado nos presenteou.

Nossa pele por sete fogos atravessada.

Às vésperas do oceano, do sal e do infinito.

Deixando as árvores se desfolharem.

Segurando às mãos a flor sem pétalas.

E ouvindo o tempo.

Sentindo o tempo.

Sabendo a tempo.

Sete vezes dançaram os praiás sobre a coroa de minha cabeça.

Sete rios nos cruzaram sem nos molhar.

Sete jaguares nos cantaram.

Sete fogos atravessaram nossa pele.

Às vésperas do oceano, do sal e do infinito.

Deixando as folhas se libertarem das árvores.

Segurando às mãos as pétalas sem flor.

Sendo ouvido pelo tempo.

Sendo sentido pelo tempo.

Sendo conhecido pelo tempo.

Sabendo que nada sabemos.

Que somos menos.

E que as onças curam ao cantar.

 

nuno g.

23/09/20

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