sábado, 6 de abril de 2019

sonho com rimbaud, por patti smith

sou uma viúva. pode ser em chalerville pode ser
em qualquer lugar. ele caminha atrás da charrua. as
campinas. o jovem arthur se esconde pela fazenda
(roche?). o gerador o poço artesiano. atira cacos de vidro
verde aliás lascas de cristal. acerta meu olho.

estou no andar de cima. no quarto fazendo um curativo.
ele entra. se aproxima da cama. suas faces coradas.
arrogante & mãos enormes. sexy como o inferno. que
aconteceu ele pergunta se fazendo de inocente. inocente
demais. tiro a bandagem. mostro meu olho uma nojeira
sangrenta: um sonho de edgar allan poe. ele se assusta.

atiro à queima-roupa. alguém fez isto. você. ele cai a
meus pés. chora em meu colo. toco seu cabelo, mas
queimo os dedos. densa raposa de fogo. cabelo dourado
macio. aquela inconfundível tonalidade ruiva. rubedo.
espanto vermelho. cabelo do Único.

cristo eu o quero. imundo filho da puta. ele lambe minha
mão. mantenho a calma. vai depressa tua mãe te espera.
ele levanta. está indo embora. mas não sem antes me
olhar com aqueles seus frios olhos azuis de assassino. ele
hesita é meu. estamos na cama. levo uma faca suave à sua
garganta. deixo cair. nos agarramos. devoro seu escalpo.
piolhos do tamanho de dedos de criança.
o caviar do seu crânio.

arthur arthur. estamos em aden, abissínia. fodendo &
fumando. nos beijamos. mas é mais que isso. blues.
charco azulado. mancha à tona da lagoa. percepções
ampliadas, alma vital. baía cristalina. explosão de bolas
de vidro coloridas. rasgadura de tecidos de tenda árabe.
se abrindo, aberta como uma caverna, aberta ao máximo.
rendição total.

patti smith

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