Canto primero
# Brumas de Morelos
Terra. Amor. Umidade.
Minha sede, um palácio
de
fogo, ar &
ossos
de criaturas novas
com imensos jardins
onde transitam automóveis verdes
e a interminável
memória de todas as gerações perdidas...
Terra. Amor. Umidade.
Cultivo outra vez o
chão sem chão
e minhas mãos de passarinho
desgarradas & insensatas
tatuadas como um alebrije enfeitiçado
regressam ao arado
primitivo & selvagem
de onde em verdade
nunca haviam saído...
Terra. Amor.
Liberdade.
Lágrimas me despetalam
nessas montanhas enchilladas
onde cavalos fantasmas
relincham corridos
profanos
e nos alpendres os
pássaros
assoviam reggae, jazz
& lamentos variegados
embalando as criaturas
novas
que em meus pulmões
florescem:
sóis e luas e coelhos
de pelúcia
brincando no
jardim e
as crianças com seus
sonhos de crianças
soprando uma vez mais
a delicada brisa
que me afasta de mim e
me aproxima
meu coração ao coração azul da ilha...
Canto Segundo
#
Regresso ao mar ou a terra uma vez mais abandonada
Vengo a recorrer um titulo
trago asas nos pés
e não espero muitas
coisas do dia que amanhece
entretanto sigo
ávido & faminto
desnudo
y con las manos abiertas
recolho as flores
ressecadas no caminho
e os sonhos
esbagaçados que deixei
nas sarjetas dessas calles retorcidas
trago um cálice & un par de aretes
prata de Taxco
ou Zacatecas
e eis que encontro
amoroso abrigo
novas memórias novas
vísceras que
pouco-a-pouco
a velhos afetos se entrelaçam
como um tapete persa
ou uma lenda sufi
senda mística,
tortuosos caminho,
minha pele, vinho amazônico,
superfície transtornada &
encruzilhada
do coração monástico
que pulsa, no cais da ilha
soterrado...
Canto tercero
# Más allá de la puerta del infierno
O sal. A sede. Olhar
sereno.
Meu corpo, vulcão de
sete-línguas
raios & doces rios vocifera
alimentando cinzas,
sementes & fosforescências
outras
a sarça arde. Todos os
sons,
todas as sílabas, todos os sonhos
se fazem música.
Tempero o café. A
tequila. A despedida.
com o doce veneno do alacrán
que de Durango à ilha
o céu domina
& aquieta a fera
ressuscita o arcanjo
dedilha a harpa
tecla o piano
e amanhece esses versos
de gratidão, alegria
& desenfreada paixão
aos inefáveis signos do zodíaco:
mistério, segredo,
alucinação
, espaço breve &
intermitente,
amizades que respiram no éter
raízes que brotam no silêncio efêmero
que no vácuo se anuncia
entre os abismos
repletos de nada
dança uma pequena borboleta
imperatriz do milagre
supremo
haicai barroco que transubstancia
o cálcio das ruínas & pesadelos
em inigualável banquete:
cortejo de delícias
& promessas anunciadas...
nuno g.
Tepoztlán, 19 de
hongosto de 2016.
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