nossos corpos uma pista
Minha língua pronta para se escorrer entre tuas
pernas
tuas pernas atrozes
meus dedos hábeis para penetrar todos teus orifícios
teus orifícios poços nos quais bebo sem saciar-me
minha unha para arranhar a corda da alma
meus dedos que te irritam com insistência ao vermelho
vivo
meus dentes que te roem
minhas mãos que percorrem selvagens precipícios
enquanto ranges enquanto te desfazes arqueias
teus seios montanhas propicias à meditação
tuas costas planície feita para perder-me
a selvagem desolação de meu nariz cheirando
teu suco teu óleo teu vinagre
o cheiro de teu breu cru
tua boca que sangra
teu mamilo que se torna de ferro entre meus
lábios
teus lábios enormes onde guardo meu segredo de
carne
tua entrada obscura negra e vermelha
carne aberta em direção ao mistério
da terra e a água
(uma criatura de lodo nadando na nata do teu
sexo)
teu ventre que faz ondas praias nas quais canto
tua cintura teu umbigo cisterna das pérolas
tuas axilas pastagens onde sorvo sem olhos
teus joelhos de ar
tuas nádegas de ar
teus arquejos de peixe teus rugidos de leoa
teus olhos em branco
a água salgada do teu corpo
nossos corpos fontes de prazer e de tormento
o abraço que nos quebra tuas garras nas minhas
costas
minha queda de bruços sobre o cal aceso minha
língua
na tua orelha teu estertor de ave que morre
voando
tudo isto para encontrar o principio da alma
trad: nuno g.
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