Essa noite não sonhei com Rebeca, embora tenha sentido sua presença no quarto ao despertar. Penso ter visto sua sombra descendo a escada e se movendo em direção ao rio, mas tenho plena consciência ter se tratado de um pensamento. Com todo o perigo que traz um pensamento, essa fenda aberta por onde passam os seres dos outros mundos quando nos querem acariciar a pele. Apesar da idade, Rebeca caminhava com passos seguros e não demonstrava sinais de cansaço ou exaustão. Ao contrário de mim que pareço ter carregado todas as montanhas da terra por um período de tempo infinitamente superior às minhas capacidades físicas e psíquicas. Não consegui reter na memória as vestes de Rebeca, suas cores se perderam na morosidade de meu despertar. Ao folhear o jornal matinal as mesmas notícias sobre o relógio da guerra do fim do mundo aceleradas pelo presente de grego do presidente gagá ao presidente tam-tam. Talvez eu tenha sonhado que não possuía mais dentes. Talvez Rebeca os tenha levado consigo. Talvez haja alguma maneira saudável e eficiente de cruzar a terra devastada. Talvez, mas só talvez, amanhã minha antiga imagem volte a se refletir no espelho d'água do rio que foge à fúria do mar.
nuno g.
toróró, 18 de novembro de 2024.
"Talvez haja alguma maneira saudável e eficiente de cruzar a terra devastada" talvez... que a encontremos!
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