segunda-feira, 11 de novembro de 2024

do rio até o mar

Ensinei o mangue à Assucena.

Ela tocou a lama e seguiu os caranguejinhos com os olhos.

Num rincão distante.

Crianças como Assucena são atacadas como se fossem soldados.

Exatamente como no Yucatán, em Cajamarca e Tenochtitlán.

Exatamente como no século XVI.

Ensinei as sementes de mangue se enraizando à Assucena.

E rezei por suas raízes.

E rezei a reza frágil de quem tem raízes frágeis.

E rezei à reza forte de quem tem raízes fortes.

E rezei às crianças que desde o século XVI se enfrentam às armas.

E rezei para que Assucena me ensinasse a rezar.

E rezei as rezas que Alice me ensinou a rezar.

Comi com as mãos o alimento que os pássaros semearam.

Ensinei à Assucena o vento e a lua que vivem na praia.

Ventos e luas distintos dos ventos e das luas que varrem e iluminam as cidades.

A maré encheu, o mangue foi submergindo e nos recolhemos ao silêncio da noite.


nuno g.
toróró, 11/11/24. 

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