sábado, 28 de outubro de 2023

lua cheia.

hoje é lua cheia.

Na Cisjordânia camponeses são assassinados enquanto colhem azeitonas.

Assucena conheceu dona Antônia.

E eu fiquei olhando como se olhavam.

As duas extremidades do arco.

O silêncio atravessando a troca de olhares como uma flecha.

Meu coração disparado.

Céu quase tão azul quanto o de Durango ou o de Iguatu.

Banhei Assucena com alfazema.

Minha mãe selvagem está com água nos pulmões.

Acendi uma vela para ela.

Por sua saúde e sua firmeza.

hoje é lua cheia.

Na Cisjordânia fascistas assassinam camponeses enquanto colhem azeitonas.

Finados se aproxima como um caracol, lentamente.

Não esqueço a flecha.

Não esqueço o arco.

hoje é lua cheia.

Meu coração disparado.

Maria Alice ensaia ensaia ensaia.

Domingo que vem ela será Tritão no teatro.

Será pai por primeira vez, depois de onze anos sendo filha.

Meus olhos marejam.

Estou velho, cansado e solitário.

Tenho a poesia. 

Tenho essas Marias que o astral me concedeu para me guiarem.

Tenho essa Senhora que me ensina com suas mãos de Lama.

Tenho essa Senhora que me lava os olhos com mel.

Tenho essa certeza que não fosse a poesia não estaria aqui.

Ainda assim haveria um colono enforcando um camponês enquanto colhe azeitonas.

hoje é lua cheia.

Desde sempre dona Eliana Gonçalves.

Toda luz e radiância no meio do céu.

Como essa pedra no meio do terreiro.

Como os olhos de Assucena no centro dos olhos de dona Antonia.

Como Maria Alice no meio do palco do teatro.

Como a razão e o leite no centro do corpo de Larissa.


nuno g.

Toróró, 28 de outubro de 2023.

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