para Campos de Carvalho,
olhei as estrelas e a igreja dos remédios
pisei onde antes o trailer de dona Irá
e lhe estendi a mão em sinal de benção
um sapo cruzou meu sonho
com uma enorme língua de fogo acesa
e uma voz vinda de muito longe sussurrou
tenho medo, tenho medo, tenho medo
olhei outra vez a igreja dos remédios e as estrelas sobre a feira vazia
pisei na vazante do Jaguaribe
onde antes pisara o Touro que tem a cabeça enterrada no Icó
e as onças que nunca pararam de cantar
um louva-deus pousou no ombro esquerdo do meu sonho
e a voz longínqua tornou a sussurrar
tenho medo, tenho medo, tenho medo
às vezes os moribundos aguardam anos a permissão dos seus para descansar
às vezes o medo nos proteje como um Anjo que conhece o futuro
mas muitas vezes o medo nos cega e nos ata ao que devíamos abandonar
a voz de David Bowie se fez ouvir entre as estrelas
as portas da igreja dos remédios se abriram
dona Irá me concedeu sua benção
acariciou as coroas das cabeças de minhas duas Marias
e a luz do sol foi se esparramando sobre a feira
enquanto os primeiros transeuntes chegavam com suas frutas, verduras, legumes
e o cheiro de café e de cigarro inundava a primavera do sonho...
nuno g.
toróró, 24/10/23.
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