tudo é pressentimento e intuição
os passos dos mortos que sobem e descem as escadas
o arco-íris que não se apresenta depois da tempestade
e a luta incessante e feroz entre a carne e a carne
tudo é pressentimento e intuição
os olhos da fera que habita a casamata
e o silêncio, rude e vago, que percorre os entrevãos da sombra
tudo é pressentimento e intuição
a memória, o caminho, a febre
não há outro selo que não seja o da infecção
não há outra via que não seja a da ascensão
por todos os lados o horizonte se estreita
ricos vestidos de ricos se comportam como ricos
enquanto os sábios regressam às selvas e com as mãos em formas de conchas
bebem uma vez mais a límpida água que corre nos rios
o tempo nos atravessa como uma flecha
miríade de flechas e cavalos castanhos
tudo é pressentimento e intuição
nada é em vão - o morto que aqui habita
procura uma boca que lhe abrace a voz
tudo é pressentimento e intuição
a chuva afaga a terra
os ricos se olham como ricos e se pensam ricos
nada lhes basta, nada lhes conforta, nada lhes pertence
os sábios regressam - sempre recordando as dificuldades inerentes a todo regresso
a luta incessante entre o espírito e o espírito
e os paralelepípedos da cidade mágica permanecem inalteráveis
a culpa, o pecado, a cisma
a chuva outra vez e todas suas indistintas promessas
tudo é pressentimento e intuição
nada é em vão - nem o medo, nem a tempestade
o solilóquio dos sábios é composto de música, delicadeza e abruptas revelações
tudo é pressentimento e intuição
a chuva afaga a terra, os olhos do cintilante se fecham,
tudo é turvo, tudo é ascensão:
tudo é pressentimento, tudo é intuição.
nuno g.
Toróró, 28 de abril de 22.
e poesia...
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