Hermenegildo cruzou outra vez o meu sonho.
Seu cavalo ainda era o mesmo.
Apesar da lança do tempo que agora trazia ao peito.
E ao despertar quase nada recordei.
Somente a conversa entre a minha tristeza e a tristeza de um amigo.
Numa praça onde quando colônia se vendiam escravos.
Um chafariz jorrando águas e machados.
E a memória de um céu amarelado por ondas vulcânicas.
As mensagens da morte nos chegando.
E Hermenegildo seguindo seu caminho.
Com seu cavalo e suas preces manuscritas.
Ainda era em tudo o mesmo.
Apesar da lança do tempo que agora lhe atravessava o peito.
Como um arabesco servindo de ponte.
Ou uma lua nova mergulhando entre o cruzeiro e as três marias.
Havia certa palidez em meus gestos.
E o sentido das coisas parecia para sempre perdido.
Entre os sedimentos porosos e as ruínas ósseas.
Uma leve brisa reacendeu meu cigarro.
E os sapos saltaram sobre as folhas de cartolina.
Não existe atalho. A ideia de salvação é um ato falho.
O laço, o chicote e as corriqueiras hesitações.
Apesar de tudo, Hermenegildo e seu cavalo seguiam sua jornada.
nuno g.
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