terça-feira, 12 de abril de 2022

Psicologia de uma paisagem

Primeiro veio o infiltrado.

Veio de longe, muito longe.

E apagou o rastro das distâncias que percorrera.

Bateu a cabeça e morreu.

Seu corpo se dissolveu em pura música.

Em seguida veio o bebê.

Órfão.

Bateu a cabeça e morreu.

Depois vieram as águas.

Levaram os peixes e as redes dos pescadores.

Voltamos à aldeia.

Às mesmíssimas ilhas de pedras onde nasceram

o mausoléu, as sombras e a encruzilhada.

Fizemos uma grande fogueira no centro do mundo.

Banhamos em sal e ervas os colares e as coroas.

Voltamos à aldeia.

Ao mesmíssimo montículo de areia e solidão onde nasceram

as fúrias, a angústia e as aflições.

Choveu sete dias sobre o reino.

E só então entendemos o que a serpente nos dissera

sobre o nunca, o vazio e o nada.


nuno g.

Stella Maris, 10 de abril.


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