para Allen Ginsberg,
Sonhei com a família Pascoal e com os monges beneditinos.
Uma atmosfera de canto gregoriano.
Compramos um obi, branco.
No fogo, as águas.
Na pedra, as águas.
E nas vestes brancas todas as cores.
Sonhei com um mangue e com comida feita à base de fetos humanos.
Sonhei com um velório e um prato de ervas sobre a mesa.
Sonhei com parentes desconhecidos.
Pequenas dívidas de rua.
Treze reais na miscelânea da Faceira.
Trinta e seis reais no Mário da feira.
Haverá outra vez um tempo em que as diferenças não sejam um fardo?
Os fascistas atiraram granadas contra os federais.
Saudades de Durruti e dos carbonários.
Haverá outra vez um tempo em que o amor não traga o peso do mundo?
A poesia é a ciência das passagens.
A arte de decifrar rastros antigos de vozes quase esquecidas.
No rio, as águas.
E em seu espelho a esperança de regressar ao corpo em que nasci.
nuno g.
Toróró, 24/10/22.
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