para Jack Kerouac & Gary Snider,
Sonhei com Bruno lendo paradiso de Lezama Lima no quarto 217 do Overlook hotel.
Chovia muito e havia estilhaços de granadas ricocheteando por todos os lados.
Gerardo Machado, Fulgencio Batista e Golbery do Couto e Silva tomavam drinks na janela.
Sonhei com bernardinho saltando a porteira do sítio.
Sonhei com André Dias desenhando a palavra nenúfares na soleira do dicionário.
Chovia muito.
Sobre as plantações de papoula.
Sobre os cílios e as pálpebras de Neruda.
Sobre as cartas do tarot de Jodorowsky.
Sonhei com todos os meus sonhos encharcados por uma chuva de séculos.
Sonhei com o escárnio, a mentira e as infinitas perversões do ego.
Sonhei com cinzas e com armadilhas.
Sonhei com meus dois abikus em sua floresta.
Sonhei com Claudio Reis entre lírios brancos.
Sonhei com os sonhos da mulher que traz no corpo a razão.
Sonhei com a morte e com suas sedutoras artimanhas.
Sonhei com a chuva, com as granadas e com os agrimensores do Palácio dos Einhejar.
Sonhei com arquivos labirínticos e com a fé selvagem.
Sonhei com o assassinato de meu pai.
Sonhei com o suicídio de minha mãe.
Sonhei com os tapuias do Jaguaribe.
Sonhei com a chuva de mil séculos e com os erês de Tempo.
Sonhei, sonhei, sonhei...
nuno g.
Toróró, 25/10/22.
Nenhum comentário:
Postar um comentário