sábado, 14 de outubro de 2017

homem de água ou antigo testamento

Santiago veio aqui.
Inês também.
E Akin.
Os três lhe procuravam.
Você não estava.
Eles se foram e os grilos ficaram.
São muitos.
Acho que foram eles que espantaram a esperança verde da nossa cozinha.
Ou ela morreu.
Ou ela partiu.
Dizem que os grilos trazem sorte.
Dizem que os chineses comem grilos fritos.
Na dúvida comecei a ler um romance oriental.
Ele me trouxe uma tempestade de areia tão fina que parecia grãos de ossos moídos.
Açoitou minha pele.
Me trouxe memórias ruins.
Turvou minha visão.
Mas não apagou o verde que eu trouxe da viagem.
Não dissolveu o sal que veio comigo.
Nem me fez esquecer o sonho em que eu despertava entre afegãos.
Onde é que fica Pasárgada?
Do outro lado da muralha.
Lá eu sou amigo do rei.
Seu nome: Hamurabi.
São suas as moças que acariciam os cabelos dos meus dois demônios.
Onde é que fica a passagem que nos leva ao outro lado da muralha?
Depois da tempestade.
Em Pasárgada deve haver justiça.
Amor sem crueldade, amor sem escrotidão.
Em Pasárgada deve haver justiça.
Será essa a sorte que trazem os grilos?
Tapetes ao chão.
Procissão de zumbis.
Caminhamos todos ao altar onde se venera a justiça.
Rogando por uma paz que não seja submissão.
Amém.

nuno g.

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