domingo, 28 de janeiro de 2024

Ode a Hermenegildo

 à memória de Augusto dos Anjos,


Pina, a gata, arranha a casca da jurema preta.

Um barco sobe o Paraguassú com filhos-de-santo saudando com palmas as águas.

A tempestade se foi, não se ouvem mais os trovões.

Embora as nuvens sigam reinando nos céus.

Seu Antonio feriu o pé com espinho de roseira.

Uma voz distante nos abraça e promete alguma ternura antes dos dias de folia.

Um vento suave vem do Himalaia e leva algumas pesadas formas-pensamentos.

Mistérios Sussuarânicos, pássaros de Hermenegildo com metais no bico.

Pássaros de Hermenegildo com minerais no bico.

Uma canção na voz Gaeth soprando paz e paz e ternura e paz e fécula de alimentos e paz.

As Marias se conversam.

Alice traça uma genealogia sem-fim com Clarice.

Como se cem anos de solidão não fosse mesmo suficiente.

Assucena sorri e seu sorriso me fala do trabalho de todos os seres que a trouxeram até aqui.

Larissa sonha com a força pura e potente do parto.

Larissa sonha com o mais intenso e cintilante do parto.

Larissa sonha e em seu sonho o próprio parto está se parindo.

O gavião do Montecristo nos visita.

Um vento suave do Himalaia o traz até aqui.

Que nunca falte mel em meus olhos.

E que quando a tempestade voltar eu ainda esteja aqui.

Eu, Hermenegildo e seu estranho cavalo com asas de rinoceronte norte-coreano.


nuno g.

Toróró, 28 de janeiro de 2024.


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário