era uma vez.
ossos & penas debulhados.
entre grãos de nada.
e camadas e camadas de esquecimento.
era uma vez.
um chão onde antes dançavam os tapuias.
onde antes se fartavam de alegria corpos e corações.
era uma vez uma menina.
com um matulão de sonhos.
e um candeeiro de larva vulcânica.
era uma vez a morte.
e a chegada dos nossos.
com suas armas e sua ignorância.
e seu deus esfomeado de ouro e prata.
era uma vez um futuro.
ossos & penas debulhados.
entre grãos de nada e eternidade.
entre chispas de fogo fátuo e desmemoria.
onde não dançavam corpos tristes e corações vazios.
era uma vez um recém-renascido.
andando entre arranha-céus e um deslumbrante céu sem nuvens.
banhando-se num rio de águas antigas.
ouvindo onças imortais.
embalando-se nas redes de Tempo.
entre-nuvens. entre-árvores. entre forasteiros-familiares.
era uma vez um sonho.
entre pontes e fragrâncias.
com uma saudade do mar: verde e absoluto.
era uma vez cães que latiam e latiam sem parar.
ossos & penas debulhados num chão indígena.
e uma leve esperança nas mãos que guiam a passagem.
era uma vez um guerreiro que guerreava com delicadeza e suavidade.
era uma vez um fogo inextinguível.
era uma vez
era uma vez
era uma vez...
nuno g.
Toróró, 25/09/22.
Belíssimo !!! Logo logo sai um livro daqui!
ResponderExcluir