para Larissa Gonçalves, Bruno Gonçalves e Maria Alice Gonçalves
Foi uma cigana que me disse:
meu filho vai enfrentar demanda difícil,
mas vai vencer.
Três anos depois a mesma cigana.
Batendo fotos no estacionamento de um centro comercial.
Nos guardamos na casa de uma filha das águas doces.
E vimos a lua de prata e fino entendimento.
Os aviões fazendo a volta antes de zarpar ao sul.
E o som do mar ecoando no espelho de Tempo.
A voz de Milton ainda no corpo.
A voz de Deus.
A voz de Miguel, o Archanjo.
A voz de Yauaretê.
A voz de Iararana.
A voz da Sussuarana.
A voz do jaguar encantado.
A voz dos sonhos e da infância.
A voz das onças e de Aracati.
Dormimos num motel.
Mas não fizemos nada do que se espera daqueles que dormem em motéis.
Dormimos apenas.
E eu não pude recordar dos sonhos que tive aquela noite.
Menos ainda esquecer quão importante eles eram.
Escutei os sonhos dela.
Sobre carros, avós e confirmação.
Obrigado Milton.
Obrigado Cigana.
Obrigado povo das águas.
Em tempos de dependência e morte.
Só sobreviverá o que for amor.
O resto será já cinzas e esquecimento.
Quando as três estrelas iluminarem outra vez a escama da praia.
O resto será já passagem feita.
Ex-voto. Ex-corpo. Ex-memória-da-escuridão.
A voz de Milton. O trem de ferro.
As palavras rearranjadas de forma a expressar uma imensurável amplidão.
Obrigado Milton.
Eles todos passarão.
Você não. Você nunca.
A voz de Dom Pedro Casaldáliga.
No quilombo. Na aldeia. No terreiro.
Nas três estrelas que iluminam as ruínas dessa nação.
A voz do Jequitinhonha.
A voz do Araguaia.
A voz do Jaguaribe.
Eles todos passarão.
Sua voz não.
nuno g.
Toróró, 11/09/22
massa, Nuno!
ResponderExcluir👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾
ResponderExcluirbelíssimo!