quarta-feira, 8 de maio de 2024

o mistério das pequenas doenças ou quando a carne do Sonho sangra

Assucena come tangerina com alegria.
As mãos feridas pousam sobre a folha agônica.
Quando lhe perguntarem: tudo bem ou como estás sorria, apenas.
Esse fogo nos lábios, essas farpas entre os dentes.
O que eu quero, meu bem, é o que está sempre distante.
Senhora Obscena, eu também não me movo de mim e te agradeço.
Assucena resiste. O suco da tangerina escorre pelo queixo.
Esse fogo nos lábios de Tempo, essas carícias angelicais entre as mais discretas náuseas.
Quando me perguntarem: conhecestes a felicidade e o contentamento? receberão a mais brilhante das respostas - não importa.
As mãos e a memória das feridas sobre a folha que já é asa de pássaro livre.
Sob os escombros do viaduto, o silêncio de Orides.
Meu bem, só o que está sempre distante importa.
Antes de curar é preciso amar a ferida.
Uma e outra vez,
Além.

nuno g.
Toróró, 08 de maio de 2024

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