É que o cemitério de que lhes falo, respondia Pereda, é a cópia fiel da eternidade.
Roberto Bolaño
Estivemos em Cruz das Almas.
Passava das seis e, inevitávelmente, recordei que toda Cruz das Almas foi lugar de reza.
Que toda Cruz das Almas foi lugar de bebedeira.
Que toda Cruz das Almas foi lugar de descanso.
Que toda Cruz das Almas é lugar de passagem.
Compramos Kombucha: dez litros.
Incensos, um par de roupas e empadas.
A porta do cemitério estava batida.
Acendi a vela ali mesmo, ao pé do muro branco.
E deixei os doces ao tempo.
Talvez chovesse de madrugada e apagasse a vela.
Talvez chovesse e dificultasse o trabalho das formigas.
Passava das seis.
Regressamos.
Ao ponto zero da experiência.
Mas agora tínhamos uma raquete de matar muriçocas.
Passava da meia-noite quando a chuva chegou.
Sonhei que, finalmente, estava na ilha caribeña.
Nada no sonho recordava a revolução.
E tudo parecia tão perdido quanto todos aqui.
Assucena comeu chuchu, sem convicção.
Come-e-Dorme, em agonia, segue sua guerra pela vida.
Estive em Cruz das Almas.
A vela segue no mesmo lugar.
Os doces também.
Tem sempre uma estrada aguardando nossos mais primitivos abandonos.
nuno g.
Toróró, 10 de maio de 2024.
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