sábado, 11 de maio de 2024

Alzira

para André Dias,


Amanheceu chovendo.

Em cada gota d'água uma estrada para o infinito.

Todos os automóveis verdes dos meus sonhos com os motores ligados.

Avançando entre os escombros de Gaza e a cegueira da classe média.

Amanheceu chovendo.

Em cada gota d'água uma estrada para o Nada.

Todos os automóveis verdes dos meus sonhos com os motores ligados.

Avançando entre montanhas e montanhas de cansaço.

Amanheceu chovendo.

Acender uma vela ou encher o filtro.

Enfiar as mãos no barro como se houvesse algum futuro depois da estupidez.

Tamarindos, acerolas e umbus-cajás.

Amanheceu chovendo.

Todos os automóveis verdes dos meus sonhos com os motores ligados.

Alzira olha Tempo.

Hermenegildo cruza as nuvens.

Um pássaro sobrevoa o rio onde a morte se fez esquecimento e náusea passageira.

Amanheceu chovendo.

Ouço os sussurros de Adélia.

Ouço os cânticos de Alcides.

Tudo é feitiço sobre a terra.

Tudo é encantamento e evaporação.

Alzira olha as vestes de Tempo.

Hermenegildo toca a nudez da estrela.

O mundo semeia novas tempestades.

E todos os automóveis verdes dos meus sonhos avançam sobre as flores nascidas na pedra.


nuno g.

Toróró, 11 de maio de 2024.



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