para André Dias,
Amanheceu chovendo.
Em cada gota d'água uma estrada para o infinito.
Todos os automóveis verdes dos meus sonhos com os motores ligados.
Avançando entre os escombros de Gaza e a cegueira da classe média.
Amanheceu chovendo.
Em cada gota d'água uma estrada para o Nada.
Todos os automóveis verdes dos meus sonhos com os motores ligados.
Avançando entre montanhas e montanhas de cansaço.
Amanheceu chovendo.
Acender uma vela ou encher o filtro.
Enfiar as mãos no barro como se houvesse algum futuro depois da estupidez.
Tamarindos, acerolas e umbus-cajás.
Amanheceu chovendo.
Todos os automóveis verdes dos meus sonhos com os motores ligados.
Alzira olha Tempo.
Hermenegildo cruza as nuvens.
Um pássaro sobrevoa o rio onde a morte se fez esquecimento e náusea passageira.
Amanheceu chovendo.
Ouço os sussurros de Adélia.
Ouço os cânticos de Alcides.
Tudo é feitiço sobre a terra.
Tudo é encantamento e evaporação.
Alzira olha as vestes de Tempo.
Hermenegildo toca a nudez da estrela.
O mundo semeia novas tempestades.
E todos os automóveis verdes dos meus sonhos avançam sobre as flores nascidas na pedra.
nuno g.
Toróró, 11 de maio de 2024.
Que massa, Nuno! Lisonjeado, amigo!
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