Ele sempre vem.
Sorrateiro. Disfarçado. Artimanhoso e corroído.
Ele sempre vem e cobra.
Eu só peço a meu pai: gira-me, uma vez mais e sempre.
Deixa Ele falar. Deixa passar. Deixa o Azul sombrear seus golpes.
Eu só peço a meu pai: gira-me e conserva minha devoção.
Ele sempre vem e cobra.
Ainda depois da dívida ele olha e espuma.
Eu só peço a meu pai: gira-me e me conserva.
Balança. Balança. E balança uma vez mais.
E sempre.
Ele julga e passa. Ele fere e segue. Ele abre a janela esquerda e
Eles vêm em socorro.
Estendem a mão, sorriem e dizem sim.
Eles sempre vêm.
Giram-me e cuidam. Giram-me e guardam. Giram-me e abrigam.
O Azul soterra os golpes.
O Amarelo apascenta o ódio que O move.
Eles vêm da esquerda e me giram.
A balança do julgamento.
O balanço das águas do mar.
Firmeza. Lucidez. E a certeza de que por trás Dele existem coisas que não podem ser ditas.
O disfarce não suporta a alegria.
Artimanhoso e corroído ele recua ante Os que fazem a ronda.
Ante Os que seguem de guarda.
Não existe pureza sem mácula.
Só a da Rainha Soberana que Reina na imensidão da Floresta.
Não existe mácula sem pureza.
Só a do cobrador, cego em seu trono de fezes e morte.
Eu só peço à minha mãe: gira-me e guia.
Onde eu for escuro seja lua cheia.
E não permita esquecer que no princípio tudo era firmeza, disciplina e alegria.
E no final também.
O enforcado, o julgamento e o Archanjo.
Aos pés da Rainha Soberana da Floresta.
Eu só peço à minha mãe: gira-me e não permita o esquecimento.
Eu só peço à minha mãe: seja a lua cheia que me guia.
A estrela onde ancoro meus pensamentos.
A vibração da firmeza com que mais de uma vez atravessei os caminhos do inferno.
E este fio de luz que sustenta a pulsação de meu coração.
Amém.
nuno g.
Toróró, 13/12/21
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