sexta-feira, 1 de março de 2024

O cobrador e a encruzilhada.

Ele sempre vem.

Sorrateiro. Disfarçado. Artimanhoso e corroído.

Ele sempre vem e cobra.

Eu só peço a meu pai: gira-me, uma vez mais e sempre.

Deixa Ele falar. Deixa passar. Deixa o Azul sombrear seus golpes.

Eu só peço a meu pai: gira-me e conserva minha devoção.

Ele sempre vem e cobra.

Ainda depois da dívida ele olha e espuma.

Eu só peço a meu pai: gira-me e me conserva.

Balança. Balança. E balança uma vez mais.

E sempre.

Ele julga e passa. Ele fere e segue. Ele abre a janela esquerda e

Eles vêm em socorro.

Estendem a mão, sorriem e dizem sim.

Eles sempre vêm.

Giram-me e cuidam. Giram-me e guardam. Giram-me e abrigam.

O Azul soterra os golpes.

O Amarelo apascenta o ódio que O move.

Eles vêm da esquerda e me giram.

A balança do julgamento.

O balanço das águas do mar.

Firmeza. Lucidez. E a certeza de que por trás Dele existem coisas que não podem ser ditas.

O disfarce não suporta a alegria.

Artimanhoso e corroído ele recua ante Os que fazem a ronda.

Ante Os que seguem de guarda.

Não existe pureza sem mácula.

Só a da Rainha Soberana que Reina na imensidão da Floresta.

Não existe mácula sem pureza.

Só a do cobrador, cego em seu trono de fezes e morte.

Eu só peço à minha mãe: gira-me e guia.

Onde eu for escuro seja lua cheia.

E não permita esquecer que no princípio tudo era firmeza, disciplina e alegria.

E no final também.

O enforcado, o julgamento e o Archanjo.

Aos pés da Rainha Soberana da Floresta.

Eu só peço à minha mãe: gira-me e não permita o esquecimento.

Eu só peço à minha mãe: seja a lua cheia que me guia.

A estrela onde ancoro meus pensamentos.

A vibração da firmeza com que mais de uma vez atravessei os caminhos do inferno.

E este fio de luz que sustenta a pulsação de meu coração.

Amém.

nuno g.
Toróró, 13/12/21

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