para Paulo de Jesus & João de Moraes,
O passado é uma roupa
que não nos serve mais
Belchior.
Nesta cidade
os deuses falam pelas bocas dos loucos.
Nunca
sabemos se são loucos os deuses.
Nem se são
deuses os loucos.
Nesta cidade
quando conversamos nunca sabemos quem realmente conversa.
Nem sabemos
o que se assenta quando assentamos algo.
A única
coisa que se sabe ao certo aqui é que não somos deuses.
E não raras
vezes a honestidade nos faz perguntar se não somos loucos.
Nesta cidade
atravessamos os reinos de Tempo com certa ingenuidade.
E sem
percebermos cruzamos distraidamente as fronteiras do Inframundo.
Nesta cidade
as nuvens compõem uma forma de escrita.
E a chuva
borra memórias sem desnecessárias delicadezas.
Nesta cidade
os cães, os gatos e os loucos vêm e vão, vão e vêm.
Sem saber de
onde, sem saber pra onde.
Sem saber por
que, sem saber pra quê.
Nesta cidade
o rio corre ao contrário, fugindo do mar.
Levando
flores brancas e amarelas aos sertões da terra.
Nesta cidade
o passado escapa ao olhar desinteressado dos historiadores.
E se faz
matéria viva à sombria imaginação dos poetas.
Nesta cidade
feijão é comida que se come sem pressa e com as mãos limpas.
Esta cidade
é uma floresta de sonhos que estão além da nossa vã compreensão.
Esta cidade
é uma clepsidra de vidro.
E tudo nela
flui
nuno g.
Toróró, 25
de agosto de 2023.
Nesta cidade o rio corre ao contrário, fugindo do mar.
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