I.
quando eu crescer vou ser governadora da Bahia
quando eu crescer vou ser arquiteta, youtuber e organizadora de festa,
voltou a repetir Olívia antes da febre.
Sonhei com um morcego me mordendo a coxa numa lagoa de Salvador.
Dico punk me deu uma muda de ora-pro-nóbis.
Tia Nalva leu seus contos mais uma vez.
Maria comeu lasanha.
Conversei com o rio.
Ele me narrou histórias ciganas.
Ele me narrou a história de um anjo muito poderoso e de suas guerras.
O telefone tocou.
O telefone voltou a tocar.
Quando o suco de limão chegou eu estava quase chorando.
Meus olhos liam a dedicatória de Gleyza.
Meus olhos liam os agradecimentos de Gleyza.
Duas chamadas perdidas: 85.
Maria me lê enquanto escrevo.
Boceja, ainda em despertar.
pai, eu quero meu pai.
Um pássaro canta.
Pai, vem ver isso.
Ele ficou louco.
O muro.
Pai, vem ver isso que desilusão.
O vizinho ficou louco.
Ele está mesmo fazendo um muro.
Nós não temos muro.
Temos cerca-viva.
Plantei a muda de ora-pro-nóbis.
E desejei melhoras a Olívia.
II.
A muda, em verdade, era três.
Plantamos as três.
Não esquecer de lembrar.
Às vezes a gramática retorce destinos.
Ele me respondeu
E aí?
Só me passou o número da secretária para resolver tudo com ela
Não sei
A terceira camada era sobre aspiração humana ao inquebrantável.
E todas as lições dos metais e do underground.
É mesmo nos subterrâneos que floresce o entendimento das coisas da ordem do Sutil.
Muitas outras coisas me atravessaram.
Mas não convém falar delas aqui.
Isso não é um diário -- é um dicionário.
Um dicionário de medos imaginários enfrentando-se a uma fé inteiramente selvagem.
III.
Ofertamos flores do Curiaxito à Senhora do Rio.
Cobra-coral.
nuno g.
05/11/22
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