domingo, 6 de novembro de 2022

Ora-pro-nóbis

I.

quando eu crescer vou ser governadora da Bahia

quando eu crescer vou ser arquiteta, youtuber e organizadora de festa,

voltou a repetir Olívia antes da febre.


Sonhei com um morcego me mordendo a coxa numa lagoa de Salvador.

Dico punk me deu uma muda de ora-pro-nóbis.

Tia Nalva leu seus contos mais uma vez.

Maria comeu lasanha.

Conversei com o rio.

Ele me narrou histórias ciganas.

Ele me narrou a história de um anjo muito poderoso e de suas guerras.

O telefone tocou.

O telefone voltou a tocar.

Quando o suco de limão chegou eu estava quase chorando.

Meus olhos liam a dedicatória de Gleyza.

Meus olhos liam os agradecimentos de Gleyza.

Duas chamadas perdidas: 85.

Maria me lê enquanto escrevo.

Boceja, ainda em despertar.

pai, eu quero meu pai.

Um pássaro canta.

Pai, vem ver isso.

Ele ficou louco.

O muro.

Pai, vem ver isso que desilusão.

O vizinho ficou louco.

Ele está mesmo fazendo um muro.

Nós não temos muro.

Temos cerca-viva.

Plantei a muda de ora-pro-nóbis.

E desejei melhoras a Olívia.


II.


A muda, em verdade, era três.

Plantamos as três.

Não esquecer de lembrar.

Às vezes a gramática retorce destinos.

Ele me respondeu

E aí?

Só me passou o número da secretária para resolver tudo com ela

Não sei

A terceira camada era sobre aspiração humana ao inquebrantável.

E todas as lições dos metais e do underground.

É mesmo nos subterrâneos que floresce o entendimento das coisas da ordem do Sutil.

Muitas outras coisas me atravessaram.

Mas não convém falar delas aqui.

Isso não é um diário -- é um dicionário.

Um dicionário de medos imaginários enfrentando-se a uma fé inteiramente selvagem.


III.


Ofertamos flores do Curiaxito à Senhora do Rio.

Cobra-coral.


nuno g.

05/11/22

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