sexta-feira, 11 de novembro de 2022

crônica cachoeirana II

Dona Antônia regressou de Feira.

Feijão preto na panela de barro.

Batata-doce arrancada da terra.

O moço da coelba veio ler o registro: 144 reais.

O muro do vizinho segue crescendo.

O mundo vai se estreitando e a visão das pessoas também.

Hora de fazer as voltas-de-rua.

Exames clínicos, pagamentos bancários, escutar o rio.

É novembro: mês do aniversário de Maria, Raquel e Benício.

Lembrei do olho de peixe e da casinha verde.

Ignez foi encontrar o bisavô que saiu do hospital.

Benção mãe Hilda.

Entre os cavalos e os autistas existe algo.

Ana Júlia, tenho pensado bastante em você.

Em você e em Cora Coralina.

Na areia da Faceira tem é coisa escrita.

Os mais antigos à frente.

Existe um abismo imenso entre o olhar e o ver.

Nova nota do exército nos noticiários.

Os militares tupiniquins seguem aferrados às suas raízes podres.

Como um junkie à seringa.

Ou um pinto ao mar de lama e merda.

Os guaranis paraguaios não esquecem.

Todos os exames negativos.

Poesia é caminho.

Macaxeira cozida sem sal.

Imensidão.


nuno g.

Toróró, 11/11/22

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