A lei. A lei. A lei.
O galo e o enforcado.
E o meu sonho de sempre sobre o meu rosto antes do
nascimento.
Refletido na água.
Cravejado com espinhos de ferro & aço.
Brilhando na noite da mata.
Em meio às estrelas e aos dentes de minha mãe.
A lei. A lei. A lei.
A primavera se abrindo com o sangue do galo.
Gotejando na carta do enforcado.
A lei. A lei. A lei.
E o meu rosto de sonho sempre antes do nascimento.
Cavalgando Eleguá, o cavalo de pedra.
E sua crina lambuzada de mel.
Entre os seios e as coxas de minha mãe.
Como se na carne uma fenda aberta à outra carne.
E no coração do mistério um abismo a outro abismo.
Gotejando nos caules de milefólio.
A lei. A lei. A lei.
O galo, o sonho, o enforcado.
Sempre.
O Azul caminhando ao meu lado.
Com sua espada de metal e a serpente.
Um olho tatuado dentro do olho.
Como a noite e o rastro das asas.
O inverno, a seca, o rio que morre e renasce.
Fogo-fátuo ante o palácio dos eguns.
Meu dicionário, meus medos interditados.
A lei. A lei. A lei.
A testa toca o chão ao som do atabaque.
Meu rosto é o mesmo de sempre.
Meu rosto antecede meu nascimento.
O sangue do galo pinga sobre o metal da espada.
A lei. A lei. A lei.
Dentro do cálice os três chicotes trabalham.
A forja Dele. A crina de mel. O silêncio do outono.
A memória do curry e do shoyu, a fonte.
Todos os quintais vão se abrindo.
Escadas e jardins e escadas e jardins e.
Não há mais esperanças:
A vida pode finalmente florescer em paz.
nuno g.
Toróró, 12 de julho de 2021
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