O que eles não sabem é que elas não morrem.
Nem o fogo
da cidade branca.
Nem a arma
esmaltada e bandeirante.
Nem o hálito
pode.
O que eles
não sabem é que um dia chove.
E que eles
sim morrem.
No Icó tem
uma casa encarnada.
O vermelho
dela não é tinta.
É sangue de menstruação.
É sangue de sussuarana.
O que eles
não sabem é que seus automóveis são uma extensão.
Que seus
sonhos de Miami são uma triste reedição.
Dos antigos
sonhos dos bárbaros de além-mar.
Sem a
valentia. Sem a inocência. Sem a coragem dos primeiros.
O que eles
não sabem é que seus apartamentos.
Só servem ao
vôo dos gaviões.
Que ao se
chocarem contra o chão.
Enfiam olhos
adentro a sífilis a gonorreia e a solidão.
Lhes devolvem
as escaras do tempo.
E gritam
não.
O que eles
não sabem é que onças reencarnam.
Eles não.
No Icó tem
uma cabeça de touro enterrada.
A maquiagem
do shopping não desfaz a escuridão.
Poconé e
Araguaia: ódio e salvação.
O que eles
não sabem é que onça canta.
Assobia, tripudia,
ora.
Tem onça que
é de Iemanjá.
Tem onça que
é de Iansã.
Tem onça que
se basta em sua primitiva santidade.
nuno g.
que beleza de poema... onça é pra sempre
ResponderExcluirmuito bonito, nuno.
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