hoje, ainda mais que sempre, sua voz em minha voz sussurra
sua alegria, em minha garganta, como um gigante azul desperta
suas mãos trêmulas já nas minhas reverberam
seu canto rouco em meus gestos loucos reencarna
hoje, ainda mais que sempre, sei que fui seu último sonho e pesadelo
sua última tempestade e criação
tão bem recordo suas sentenças sobre a morte
seu hálito de amor e cachaça coagulada
sua saudade exposta às vésperas sobre a mesa:
a cidade desaparecendo
as pessoas desaparecendo
os sentidos aturdidos
e o tempo apodrecendo à luz das lamparinas mortas
hoje, ainda mais que sempre, pressinto teu olhar pousando sobre minha filha
teus rancores corroendo a vastidão oferecida
e a desmedida do remorso incauto
abarcando com suas asas torpes
as fronteiras acesas de nossa imensidão
hoje, mais que nunca, o vento me traz tua imagem bíblica
faróis insanos, turbulentos mares
em meu peito segue a arder tua velha insígnia
e como as bestas do zodíaco alquímico
transfiguro-me e me dissolvo
em teu apocalipse: meu gênesis,
meu infeccionado chão.
nuno g.
Valle de bravo, 26 de novembro de 2014.
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