No fogo o Silêncio das garças
que invadem a cozinha
caminham pra casa no final da tarde e
dormem tumultuadas umas em cima das outras
vão em bando buscando seus lugares ao sol da noite
movimento do
rio de minha cadeira
de balanço, minha caneta na onda
das paginas
uma cadela que se levanta
e late em voz alta: estou de volta!
um trato com os ancestrais
forças divinas luminosas
atravessam o paraguaçu
enquanto um craqueiro
morre de overdose na santa Cecilia
santa que só salva os demônios
de vozes agudas…
as crianças brincam nos tatames
e video games não cabem na infância
que implora vida
2.
o sono leve de um colibri
e o canto do pássaro de fogo
confessa diante do pé da
bananeira silêncios
ancestrais
um traço da verdade
esta nos olhos
de águas prateadas:
movimento que
os barcos da faceira
tem
seria preciso um milhão
de pontos pra tua dança
caminhar nos grandes
salões solares do axé
teu branco alinhado
a tua alma: vibra um
rio embaraçado por
uma maré alta constante
perdi a hora em tecidos
que na verdade nos tecia
diante de uma víbora que
se enrola na própria calda
e mata a sede com o próprio veneno
os escorpiões de cuba também curam e:
temos cada um de presente da vida
calos na alma que mais parecem tijolos na mão
temos esse cheiro cheio de fogo
e faíscas que alcançam o teto da casa
teus passos na ponta da escada
cogitam sentidos de todos os lados
trava a porta
pra amarrar
o galo
tange os pintos
no quintal do
terreiro
o ifá flerta com os
búzios sobre a cama
e o cão que acompanha
Ogum late quando se aproxima
muito
3.
fiascos de chuva
umedecendo um
cais que vaga pela
manhã repleta de
garças
a linha do tiro fica
perto da minha praia
forte imponente
faz da linha uma
semente de sangue
ler um poema
do auto da ladeira
da minha rua
atravessar essa
rua e de uma ponta
a outra o sol e a lua
dividindo o dia
o poema bate de frente
com a realidade e encontra espelho
o punho afiado, afiando um
corpo presente que sente
fio condutor de uma sensibilidade
aguda infinitas são as coisas do dia-dia
(pia que parece instalação da bienal de artes do fim do mundo)
gardenal não aparece nas
letras sugeridas do teclado
do celular, o beijo de asas
fica pra próxima parada deste
carro que acelera diante de nos
eu sou um poema que esqueci
e a todo tempo tempo tento
entre raízes desabrochando
chão a fora chão a dentro
sumo do bagaço de todas
as memorias desterradas
eu sumo de mim, de meu povo
4.
coração anda em estado
de água ,
desaguando la onde os olhos puxados
chupam a espiritualidade da criação
coração em estado de água,
de asa, voando mesmo que claudicante
rumo aquele frio na barriga que se faz sentir
vivo
coração em estado de água,
buscando um furo no escuro
um tiro no sol:
sai uma luz a queima roupa
meu coração anda em estado de água
quando:
um indio velho de cócoras fazendo
cocô na esquina são joão – ipiranga:
desterritorializado
em frangalhos a cidade come vivo
a quem não dança a dança macabra
do capitalismo:
uma fumaça louca alucinante
lancinante, vida que se vai
vida que se esvai….
o forno da cidade aponta 300 graus célsius
e motos e carros acelaram feito liquidações
de natal
eu passei uma tarde linda
de plantações imensas de arroz
ao norte do vietnam
e suas velhas com seus
chapéus cônicos evitando
o bronzeado
tao sombrio quanto os apelidos
que se coloca no que se tem
vergonha
da fogueira que nos cabe nos
olhos,
da flor que nos escapa aos
dentes, sedentos de vida
o amor transbordando
feito um filme numa noite
fria e congelante no pico das agulhas negras
o poeta do instante cantou essa bola
décadas atrás
unhas felinas aderem uma
carne quente e suave
patas de elefante como sinais
de uma terra esquecida la atrás
onde memórias insistem
em planejar uma velha luz
barbara uila.
Nenhum comentário:
Postar um comentário