sábado, 8 de março de 2025

à espera de má notícia

para Maria Zilá Lima Gonçalves,

(in memoriam)


Também de coisas desastrosas somos feitos: nós e o mundo.

Dona Antônia sonhou com aipim e comentou: aipim é vela!

A morte à espreita na margem do rio:

a morte e outras serpentes sonâmbulas.

Temos que estar preparados para tudo: o mundo e nós.


Alguns aipins cozinhavam e outros ficavam duros: nisso o espírito do sonho.

E as lágrimas desceram dos olhos vermelhos de Hermenegildo.

Seu aceno quase não escondia o ferimento.

Aos pés de minha avó, em sua memória e presença.

Encostei delicadamente a cabeça e morri mais uma vez.


A noite trouxe a calmaria das unhas ainda cheias das areias com que enterraram o ódio.

E no céu uma lua que olhava minha cabeça aos pés de minha avó.

A noite trouxe a certeza que as certezas não existem.

E a estrela que ensina que enterrar importa tanto quanto desenterrar.

Uma vela é mais que suficiente para nos recordar a relevância do escuro.


nuno g.

Toróró, 01/08 de março de 2025.




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