Nasceu um abacaxi no terreiro. Meu avô me preparou por uma década para sua morte, me ensinou a segurar a alça do caixão, a empunhar a pá pra jogar areia sobre a madeira e a caminhar sozinho na escuridão. Era tudo o que a anja viria a me exigir anos depois: ensina sua filha a viver sem você. Amanheceu nublado. Turistas pululando na cidade. E meus olhos procurando destecer as vozes entremeadas no vazio. Vaga promessa de arco-íris pairando na atmosfera. Meu avô se foi enquanto eu dormia. Me deixou uma biblioteca que me salvou os dias de terror e precipícios, um ódio que me acompanha como cão fiel e essa serpente que me protege da covardia do mundo.
nuno g.
Toróró, 17/10/24.
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