Caminhamos até o Rio do Corte.
Nome bonito para dizer o lugar onde águas e navalhas se confundem.
Os tambores de São Luís e os atabaques da Rua da Feira no mesmo vento.
E o coração tão distante quanto disparado como uma segunda pele.
A luz à carne sonâmbula despertando.
Hermenegildo cruzando a montanha em chamas.
E os lábios pronunciando uma nova palavra.
Nome bonito para dizer o lugar onde morte e cura se confundem.
Adélia com seu vestido de missa e sábado.
E os dois cães rezando a Tempo e passagem.
Janeiro já chega com seu vento e seu rio.
E as onças dos sonhos sabendo à mais-realidade.
Árvores me começam.
Árvores me semeiam.
Árvores me devoram.
E vão me desensinando a ser humano.
A se libertar das folhas, das penas e dos primeiros grãos.
Judite cruzando a montanha em chamas.
Tempos de três sóis para cada ser.
Horizonte estreito, fenda na foz onde nasce a larva.
O som do choro de Maria antes de nascer.
A relva onde caminhará entre fogos e águas.
Serpente que é - à frente outra Maria.
Depois do fim do mundo ainda a incerteza sobre o que é o antes da lâmina ser rio ou navalha.
Os indíos todos aqui.
Dançando. Dançando. Dançando.
Como se as nuvens fossem uma bebida ofertada pelas divindades.
Hermenegildo, sempre ele, mergulhou nas águas (ou seria sangue?) do Rio do Corte.
E o sol nasceu por detrás do pasto da Maria Preta.
nuno g.
Toróró, 25 de novembro de 2023.
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